São Paulo, sábado, 30 de agosto de 1997
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AS DUAS FACES DO PT

Este fim-de-semana, o PT tenta chegar a alguma definição. A frase parece incompleta, mas na verdade trata-se de uma ironia, triste para os petistas, a respeito do grau de indefinições a que chegou o maior partido de oposição às vésperas de uma campanha presidencial na qual aparentemente terá pouca chance de sucesso.
Fruto de seu prolongado problema de identidade e, mais imediatamente, da falta de plataforma para a eleição, a crise petista dificilmente terá desfecho rápido e, por ora, nem mesmo parece claramente à vista uma solução do problema prático da indicação do candidato do partido à Presidência da República.
A própria demora na escolha do candidato causa danos à organização do PT e de certa parte da oposição com vista a uma disputa quase inglória. Mas as dificuldades petistas, no entanto, também estão aquém e além da definição da candidatura.
Aquém porque a escolha de um nome não soluciona conflitos internos atrozes sobre as alianças com a oposição menos à esquerda. Além da definição de um nome para a disputa com FHC, seria preciso ter uma plataforma que desse perfil definido e prático às propostas da candidatura oposicionista, tarefa à qual o partido não se entregou desde a derrota de 94. Tal atitude fez com que o petismo conduzisse uma oposição um tanto vazia ao governo, sem base popular articulada ou fundamento conceitual e programático. Como observou Elio Gaspari nesta Folha, as bandeiras do partido saíram do armário quase apenas a reboque de movimentos sociais ou mesmo de badernas, como no caso das polícias.
É difícil imaginar que questões dessa magnitude sejam resolvidas a curto prazo. Também improvável é a possibilidade de o PT continuar a caminhar com duas pernas que insistem em marchar para lados diferentes. Mesmo que Lula obtenha alguma espécie de consenso em torno de seu nome, seria ingênuo acreditar que a esquerda petista não boicote na prática a aproximação com aliados não tradicionais do PT. Ao que parece, o partido teria de cortar a própria carne -suas tendências mais "radicais"- para poder crescer.

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