São Paulo, sábado, 30 de agosto de 1997
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O pesadelo americano

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A economia norte-americana cresce há seis anos consecutivos, o desemprego é o mais baixo em 24 anos. Parece o paraíso na primeira curva do caminho. Ou, como escrevia a revista "Business Week", na véspera da cúpula do G-7, o clube dos sete países mais ricos do mundo, realizada em junho em Denver (Colorado):
"Desta vez, o presidente americano pode exibir suas políticas econômicas como um modelo para os outros. Ele está pilotando um 'boom' econômico que é a inveja dos outros líderes".
Menos mal que a própria "Business Week", no número mais recente, revisita o "boom" para concluir que quase nada é dourado, do ponto de vista dos cidadãos comuns.
Exemplos:
1 - os salários médios reais continuam inferiores ao do pico de todos os tempos (1973, um quarto de século atrás);
2 - "Um grande número de pessoas trabalha em empregos de menor qualificação e menores salários que (...) oferecem poucas perspectivas de treinamento no cumprimento da função ou de progresso profissional";
3 - as rendas familiares, corrigidas pela inflação, recuperaram apenas metade de seus prejuízos, em relação aos níveis pré-recessão de 1989;
4 - "O fosso entre as faixas mais altas e as mais baixas está muito maior do que era 25 anos atrás".
Quase todos esses dados já foram expostos neste espaço ou em outros textos para a Folha, produzidos a propósito do encontro do G-7 em Denver. Se os reproduzo outra vez, não é por implicância com o modelo norte-americano.
É apenas para tentar deixar claro o óbvio, mas que tanta gente no Brasil se recusa a ver: o ultraliberalismo pode ser a melhor forma de produzir riquezas, mas deve, até agora, a demonstração de que é capaz de distribui-las. Pior: deve a prova de que é capaz, ao menos, de não ampliar o fosso entre os que têm e os que não têm.

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