São Paulo, quinta-feira, 4 de setembro de 1997
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Shoiti San

CARLOS SARLI

"Qualquer hora você vai ter um ataque do coração fotografando essas gatas." A brincadeira deve ter sido ouvida inúmeras vezes pelo baixinho, simpático, roliço, bem-humorado e sempre bronzeado Shoiti.
As condições de sua morte transformaram a inocente brincadeira em piada de mau gosto, embora com certeza não tenha sido nenhuma mulher o motivo do infarto há duas semanas.
Com elas, as mais bonitas do Brasil, Shoiti estava acostumado a conviver. Fotografava-as incansavelmente, o que acabou por torná-lo um profissional da foto de hoje, digno de fazer parte do seleto grupo dos paparazzi da era romântica pré-Lady Di.
Conheci o Shoiti há pouco mais de 15 anos. Nessa época ele circulava entre a rapaziada do vôo livre. Os finais de semana eram na Pedra Grande, em Atibaia, ou no Baú, em Campos do Jordão, e suas fotos eram das decolagens, vôos e resgates, já que raras eram as garotas que frequentavam esse universo.
Com o tempo, desceu a serra. Passou a conviver com a galera do surfe, ocupando os dias úteis como gerente financeiro da "Trip" por mais de uma década. Na praia, me pareceu, era onde mais se sentia em casa.
Fazia Maresias de ponta a ponta, máquina fotográfica em punho, documentando tudo que via de interessante. Leia-se mulheres bonitas. Essa rotina foi estendida para a noite paulistana. Onde estivesse, fotografava as garotas bonitas. Dois, três, às vezes quatro lugares diferentes todas as noites. Sempre sóbrio, elegante e sorridente.
Viveu os últimos anos, acredito, da forma como sonhava ser a vida ideal nos dias de funcionário da Emplasa, muito antes de virar figura querida entre a galera dos esportes de ação.
Colecionador da boa música, morreu na madrugada de ontem. Agora deve estar entre acordes de "What a wonderful world", uma de suas favoritas, e, imagino, com a qual se identificava. Vá em paz, Hori.

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