São Paulo, sexta-feira, 5 de setembro de 1997
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Revelação perde emprego

MARCELO DAMATO
DA REPORTAGEM LOCAL

A revelação da arbitragem deste Brasileiro está desempregada.
Paulo César de Oliveira, 23, perdeu o emprego de balconista numa loja de Cruzeiro (210 km a nordeste de São Paulo), onde mora.
"Eu entendo. Perdi muito dia de trabalho viajando para apitar e nas pré-temporadas", explica.
Oliveira ficou famoso nacionalmente por sua atuação na partida Sport 2 x 3 Vasco, no sábado passado. Marcou quatro pênaltis, repetiu a cobrança de um e expulsou três atletas.
Por essa atuação, ele recebeu dezenas de cumprimentos de colegas na terça-feira, ao ir a uma curso de aperfeiçoamento de arbitragem promovido pela Federação Paulista de Futebol.
"Não me considero um juiz enérgico. Só procuro cumprir todas as regras."
(MD)
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Folha - Como você começou a apitar?
Paulo César de Oliveira -Na cidade em que eu moro, faltava juiz para os jogos de dente-de-leite. Me pediram para apitar, gostei e continuei.
Folha - Você sonhava ser juiz?
Oliveira - De criança, queria ser padre. Mais tarde, sonhei ser jogador. Era ponta-direita, mas era muito ruim.
Ping - Como foi sua infância?
Oliveira - Foi difícil. Sou o décimo de 11 filhos, todos homens. Há 16 anos meu pai morreu. Tive que começar a trabalhar. Vendia picolé. Depois melhorei. Agora, estou cursando educação física.
Folha - Você se considera um juiz enérgico?
Oliveira -Não. Só procuro cumprir todas as regras.
Folha - Mas os juízes da Fifa não expulsam tantos jogadores quanto você...
Oliveira -É que eles são mais respeitados pelos jogadores, acontecem menos episódios de indisciplina.
Folha - No jogo contra o Sport, como os jogadores do Vasco reagiram quando você mandou repetir o pênalti?
Oliveira -Houve invasão no lance. Os jogadores do Vasco reclamaram, mas nos outros três pênaltis ninguém invadiu.
Folha - Você não tem medo de apanhar dos jogadores ou da torcida?
Oliveira - Agora, não. Os estádios têm segurança, alambrado, polícia. Duro era na várzea, tudo aberto. A torcida invadia e não tinha quem segurasse.
Folha - Em 96, a extinta comissão de arbitragens promoveu uma experiência com sete árbitros tidos como promissores. Você foi cogitado?
Oliveira - Não. Só soube daquilo, pelo jornal, quando já estava tudo definido. Meu sonho para esse ano era ser escolhido para aquele programa...
Folha - Quando você percebeu que a atual comissão apreciava seu trabalho?
Oliveira - Na pré-temporada. Só foram os juízes da Fifa e um de cada Estado. E eu fui.
Folha - Você pensa em chegar à Fifa? Quando?
Oliveira - Sim. Mas não penso em data. Achava que chegaria à Série A só com uns 27, 28 anos. Foi mais rápido.
Folha - Não é ruim surgir como juiz logo após o escândalo da Conaf?
Oliveira - Mudar isso depende de nós. Juízes, como eu, o Evandro (Roman, PR) e o Ubiraci (Damásio, RJ) temos que mudar essa má imagem.

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