São Paulo, sexta-feira, 5 de setembro de 1997
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Há lugar para os dois

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Renato Aragão e Chico Anysio inscrevem-se na tradição do humor popular brasileiro.
Um humor que vem das comédias de Martins Pena no século passado, certamente até antes delas, nas comédias do Judeu, Antônio José, português nascido no Brasil, representadas no país no século 18. Um humor que, a bem da verdade, volta no tempo até Gil Vicente, Cervantes, Plauto.
Mas é no século 20 que tal humor ganha a forma com que chegou, recentemente, à TV.
O teatro de revista, na virada do século, influenciado por companhias francesas e abrasileirado por dramaturgos e compositores como Arthur Azevedo e Ary Barroso (este com quase três dezenas de revistas), está na base do humor que entrou pelo rádio e TV.
Uma comédia de quadros ou esquetes e sobretudo de tipos, de personagens característicos, estereotipados, alguns deles na figura do "zanni", entre ingênuo e ardiloso, no que é a marca de Renato Aragão.
Uma comédia por vezes em duplas ou grupos de comediantes, por vezes em quadros musicais, originais ou em versões burlescas de sucessos.
A forma vem da revista, passou pelo rádio e chegou à televisão. Começou a ser questionada de uma década para cá por um novo gênero de humor, talvez mais cínico, até "brechtiano" no desprendimento da ingenuidade anterior, um humor em que o comediante se expõe sem a máscara do tipo.
Esse novo humor também sai do teatro, no caso, do besteirol da virada dos anos 70 para os 80 e, um pouco antes, do Asdrubal Trouxe o Trombone. São os posteriores "piratas".
Carregam uma evidente influência do humor dos anos 60 e 70, dos ingleses do Monty Python aos americanos do "Saturday Night Live", sem esquecer o "stand-up" Lenny Bruce. Também sem esquecer, no Brasil, Oswald de Andrade.
Seguidos depois por "Casseta & Planeta", espécie de segunda geração, os "piratas" destronaram, tanto pela forma quanto pela idade, os soberanos do velho humorismo, como Aragão, Anysio, Jô Soares.
O último ainda adaptou-se, como o americano Johnny Carson depois de destronado pelo "Saturday Night Live", com um programa de entrevistas. Os demais dividem-se entre o rancor e as reprises.
Reprises que alcançam audiências até mais elevadas do que aquelas dos novos, a indicar que há lugar para os dois grupos. Aliás, a bem da verdade, nem tão diferentes assim.

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