São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 1997
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Brasil estréia "perdido" no Midem

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

O Midem Latin America & Caribbean Music Market, primeira edição da tradicional feira musical francesa exclusivamente para o mercado latino-americano, começou anteontem, em Miami, apartando discurso e realidade em relação à participação brasileira.
Embora a organização do evento e conferencistas destaquem o Brasil como o mercado musical que vive a maior expansão entre os países de língua portuguesa e espanhola -cresceu de US$ 300 milhões para US$ 1,2 bilhão entre 93 e 96-, sua participação efetiva no Midem começou discreta.
Os únicos artistas participantes -Fernanda Abreu e Paralamas do Sucesso, que fariam shows ontem dentro da "Noite Brasileira", e Deborah Blando- ficaram perdidos numa enxurrada de participantes hispano-americanos.
Entre gravadoras, apenas uns poucos selos pequenos -como Cid, Movieplay, Spotlight e Paradoxx- armaram estandes na feira, muitos deles mais para comprar do que para vender.
"Estamos aqui mais interessados em adquirir licenciamentos para lançar no Brasil material internacional de dance music do que para vender nossos produtos. Acho que vai ser difícil vender", afirma o diretor de marketing da Cid, Dany Zuckermann.
O selo colocou em seu mostruário CDs de Emílio Santiago, Quarteto em Cy, Bezerra da Silva, Moreira da Silva, Baden Powell e Cláudia Telles, entre outros.
"Estamos aqui para vender artistas de apelo internacional, que são os que trazem características latinas, como Dominó e Lady Lu. A América Latina vai ser o celeiro do mundo", diz o gerente artístico da Paradoxx, Santiago Malnati -o Mister Sam (leia texto abaixo).
Além de vender brasileiros "latinizados" no Midem, a Paradoxx quer também importar artistas latinos. "Estamos atrás de grupos de black music para licenciar para o Brasil. O charme, que já é sucesso no Rio de Janeiro, tende a explodir no Brasil todo", diz Mister Sam.
Enquanto os selos nacionais tentam comprar produtos, executivos de gravadoras manifestam entusiasmo pelo mercado brasileiro.
Citando em conferência Chico Buarque, Roberto Carlos, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Caetano Veloso e Tom Jobim como alguns dos mais bem-sucedidos artistas latino-americanos, o presidente da PolyGram latino-americana nos EUA, Manolo Díaz, propagandeou o Brasil.
"Boas notícias: de acordo com a revista 'The Economist', 8 milhões de pessoas foram retirados da pobreza no Brasil entre 93 e 95. É o equivalente às populações da Irlanda e da Noruega juntas."
Pregando o ataque à pirataria e a atenção à legislação e às novas tecnologias como requisitos fundamentais para o desenvolvimento dos mercados latino-americanos, ele louvou a MPB.
"A música brasileira é sofisticada, não se pode dizer que seja de Terceiro Mundo. Artistas como Simone e Djavan, que não se podem ser rotulados como músicos de jazz, escalam as paradas de jazz do mundo". Mas o artista convidado para simbolizar o Midem latino-americano no jantar de abertura foi o espanhol Julio Iglesias.

O jornalista Pedro Alexandre Sanches viajou a convite do Midem.

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