São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 1997
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Covas pode abrir crise entre PSDB e FHC

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A decisão do governador Mário Covas de não disputar a reeleição em São Paulo pode ser o estopim de uma série de reclamações dos demais governadores e de pré-candidatos do PSDB contra o Palácio do Planalto.
Há problemas em Minas Gerais, Espírito Santo, Pará, Mato Grosso, Sergipe e até no Rio Grande do Sul, onde o governador Antônio Britto é do PMDB, mas muito ligado aos tucanos.
"O incômodo que acontece em São Paulo se repete em outros Estados", afirmou à Folha o governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo. Um ministro discorda. Disse que, na avaliação do governo, a posição de Covas é isolada.
Em comum, a maior parte dos governadores desses Estados reclama uma postura partidária mais incisiva de FHC e uma compensação federal para as perdas de receita provocadas pela chamada Lei Kandir, que eliminou o ICMS nas exportações.
Há, entretanto, questões de cunho estritamente local. É o caso do Espírito Santo, onde o ex-prefeito de Vitória Paulo Hartung ameaça trocar o PSDB pelo PPS ou PSB para concorrer ao governo estadual. Ele falou ontem com FHC.
Até agora, o PSDB só tem uma posição eleitoral considerada razoavelmente tranquila no Ceará, mas até ali existe a forte ameaça de o ex-governador Ciro Gomes se filiar ao PSB para disputar contra FHC em 1998. Mesmo que ele recue, está caracterizada uma dissidência potencial.
Ameaça eleitoral
Governadores, ministros, senadores e deputados avaliam que a desistência de Covas em São Paulo e os ataques de Ciro Gomes contra FHC são muito graves. Ameaçam o desempenho eleitoral do PSDB e prejudicam a recandidatura do presidente.
Com sérias dificuldades eleitorais no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, a grande expectativa de vitória dos tucanos no chamado "triângulo das Bermudas" político era em São Paulo, mas com Mário Covas.
Sem ele, todos reconhecem que a candidatura Paulo Maluf (PPB) ganha enorme vigor.
"É preciso agir, e rápido", disse ontem o ex-presidente nacional do PSDB Pimenta da Veiga, que participa das articulações para evitar que a decisão de Covas se transforme em crise. Ele está convencido de que, se Covas não reconsiderar sua decisão, "haverá um sinistro".
A acredita ainda que Covas só vai reconsiderar se Fernando Henrique Cardoso refizer suas "relações institucionais" com os governadores e candidatos do PSDB.
Isso significaria, por exemplo, conter a aproximação de FHC com os adversários tradicionais do PSDB, como Maluf e o prefeito de Contagem (MG), o ex-governador mineiro Newton Cardoso.
Inegociável
Até ontem à noite, todo o governo se empenhava em dizer que a ordem de FHC é fazer tudo para que Covas volte atrás. Entretanto, um ministro garantiu que novas mudanças na Lei Kandir são inegociáveis.
O caso do Rio de Janeiro é justamente o contrário do de São Paulo. Covas diz que não é candidato, mas poderá ser obrigado a ser. Já o governador Marcello Alencar sempre diz que é candidato, mas deve acabar não sendo.
Aos 72 anos, Alencar está mal nas pesquisas e enfrenta ferrenha oposição do PFL. Teme, entretanto, que se admitir estar fora da campanha, seu governo "acabe" prematuramente.
Também ao contrário de Covas e do mineiro Azeredo, que acumula mágoas de FHC, Alencar tem mantido um bom relacionamento com o Planalto. Fernando Henrique Cardoso pouco fala com Covas, mas telefona pelo menos uma vez por semana para Alencar e tem sido generoso com o Rio.
As queixas de Hartung também não são contra o Planalto. Ele disse ontem a FHC que o senador José Ignácio Ferreira veta sua candidatura, que, pelas pesquisas, é a mais forte dentro do partido.
Para confirmar sua queixa, Hartung -que ocupa um cargo no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)- disse que só Ignácio e seus seguidores tiveram espaço na propaganda eleitoral do PSDB veiculada anteontem em rede estadual.
Foram excluídos o próprio Hartung e seu sucessor na prefeitura de Vitória, José Paulo Velloso Lucas. Os dois são aliados no confuso PSDB do Espírito Santo.

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