São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Presidente só soube de decisão pela TV

ELIANE CANTANHÊDE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governador Mário Covas pagou o presidente Fernando Henrique Cardoso com a mesma moeda. Covas soube do encontro de FHC com o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf (PPB) pela televisão. FHC acaba de saber da decisão de Covas de não concorrer à reeleição também pela TV.
Os dois participaram de solenidades na sexta-feira, em São Paulo. Covas não disse nada ao presidente. No sábado, os telejornais já anunciavam a decisão. No domingo, o presidente se dizia "perplexo".
A Folha apurou que as relações entre o presidente e o governador estão trincadas.
Os amigos de Fernando Henrique Cardoso acusam Covas "de se passar por vítima" e contra-atacam: "A vítima é o Fernando", como disse um deles.
Maturação
Na avaliação feita pelos tucanos que têm acesso ao Palácio do Planalto, Covas vinha amadurecendo a decisão há algum tempo e não só a escondeu de FHC como escolheu o pior momento para fazer o anúncio.
A decisão foi comunicada ao secretariado paulista no sábado passado, 19 dias antes do fim do prazo de filiação partidária para os candidatos.
Com isso, poderia alimentar o desejo do ex-governador do Ceará Ciro Gomes de trocar o PSDB pelo PSB.
Além disso, provocou o recuo dos prefeitos do interior de São Paulo que estavam prontos para aderir ao PSDB.
Eles temem que, sem um forte cabeça de chapa, o partido não seja capaz de fazer uma boa bancada em 1998.
Repercussão
"Não estamos entendendo o Covas. Não entendemos os motivos e qual o objetivo dele", disse ontem um ministro, convencido de que a decisão não terá efeito nos demais Estados e que a Lei Kandir (que tirou o ICMS das exportações) foi apenas um pretexto.
Por via das dúvidas, o ministro Sérgio Motta (Comunicações) telefonou para alguns governadores para saber da repercussão da decisão de Covas.
Na avaliação governista, se o PSDB perder Ciro, "é chato". Mas perder Covas como candidato em São Paulo "é muito grave".
Isso significa uma desorganização do quadro partidário, o enfraquecimento nacional do PSDB e uma forte ameaça de derrota no principal Estado.
FHC e os líderes partidários farão tudo para que Covas reveja sua decisão. Até ontem, porém, o governo se mantinha intransigente quanto a mudanças na Lei Kandir. "Aí não tem acordo", garantiu um outro ministro.
(EC)

Texto Anterior: 'Incômodo não é só em SP', diz Azeredo
Próximo Texto: Britto diz no RS que não é candidato
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.