São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 1997
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Definido preço mínimo da CPFL

LUÍS NASSIF

Um dia depois de anunciar sua desistência de concorrer à reeleição, o governador paulista Mário Covas começou a colher os primeiros resultados de impacto de seu governo. Ontem de manhã, em reunião no Palácio dos Bandeirantes, foi definido o preço mínimo de venda da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) -cerca de US$ 4,3 bilhões.
Os cálculos foram efetuados por duas empresas -o consórcio Máxima, Morgan Stanley, SBC Warburger e Banco Omega, e a Trevisan e Associados. Para chegar ao valor estimou-se um fluxo de caixa futuro, trazido a valor presente à taxa entre 11% e 11,5% ao ano.
Desse preço mínimo, o Estado deverá ficar com o equivalente a 41%, ou US$ 1,8 bilhão, devido à seguinte composição do capital:
1) o preço mínimo total é de US$ 4,3 bilhões;
2) desse total, 71% (ou US$ 3 bilhões) são representados por ações ordinárias (ON);
3) desses 71% de ON, o governo do Estado detém 67%, ou US$ 2 bilhões;
4) desses 67% das ON, 10% (ou US$ 200 milhões) serão destinados ao Clube de Funcionários da Centrais Elétricas Paulista (Cesp);
5) a venda será dos 57% restantes das ações ON, que representam valor mínimo de US$ 1,8 bilhão -a maior parte das quais em poder da Cesp.
O pagamento será feito integralmente em dinheiro vivo, sem moedas podres. E os lances serão efetuados por meio de envelopes fechados.
À venda da CPFL, se seguirão quatro outras decisões, envolvendo a Cesp, de acordo com o seguinte cronograma:
1) no começo de outubro será divulgado o edital de venda da CPFL. O leilão será em 5 de novembro;
2) em dezembro serão privatizadas as usinas de Rio Pardo;
3) em janeiro será privatizada a parte de distribuição da Cesp;
4) em abril será vendida sua participação na Comgás.
Depois, será separada a parte da transmissão da companhia. Aí, a própria Cesp estará pronta para ser privatizada, só que em condições muito melhores do que no início do governo.
Novo modelo
Com a venda das participações e das subsidiárias -e com a decisão do governador Mário Covas de aplicar toda a receita da privatização no saneamento financeiro da companhia-, o passivo da Cesp cairá para US$ 5 bilhões.
Ao mesmo tempo, houve melhoria em praticamente todos os indicadores financeiros e econômicos da companhia. A rentabilidade operacional passou de 7% para 30%, graças a um programa de ajuste que reduziu o número de funcionários de 22 mil para 11 mil.
Essa alteração pode mudar o modelo da privatização. Inicialmente, pensava-se em picotar a empresa. A partir das manifestações e estudos da própria Associação de Engenheiros da Cesp, optou-se pela venda em bloco.
Mas propunha-se a entrada de um sócio capitalizado, capaz de fazer frente ao seu endividamento. Equacionado o endividamento, nada impede que se busquem novas formas para a empresa -como uma corporação, com capital pulverizado, segundo propõe seu presidente, Andréa Matarazzo.
Qualidade total
Em outra oportunidade, abordarei o programa de ajuste da Cesp. Duas palavras básicas o explicam: despolitização e programas de qualidade total.
Modelo de saneamento
O governo do Espírito Santo precisava despoluir a baía de Vitória -que envolve cinco municípios. O programa total exigiria investimentos de US$ 308 milhões. O Banco Mundial bancava, mas exigia contrapartidas de US$ 154 milhões.
O governo estadual conseguiu um financiamento do Banco Europeu de Investimento. Mas o processo parou no Senado e no Tesouro, devido ao nível de endividamento do Estado.
Decidiu-se por uma solução criativa. O governador Vitor Buaiz reuniu os cinco municípios da Grande Vitória e montou um acordo, visando a venda das concessões dos serviços de saneamento.
A concessão para captação e tratamento da água será negociada pelo governo do Estado; a de distribuição, pelas prefeituras. O valor auferido com a venda das concessões será aportado, como contrapartida do financiamento.
A idéia foi levada ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que resolveu adotá-la como projeto-piloto de uma nova modelagem com empresas de saneamento. Na sexta-feira passada foi apresentada ao Banco Mundial, que a aprovou.
Com uma boa idéia na mão, será possível atender a 41% da população do Estado.

E-mail: lnassif@uol.com.br

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