São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 1997
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O fim da política

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O Jornal Nacional não é mais aquele. Em setembro, até ontem, só dois políticos foram citados em manchete, Fidel Castro e Saddam Hussein, e em textos cômicos:
- Fidel aparece para desmentir que esteja morto.
- Saddam se refresca nas águas de um rio.
No mais, as raras manchetes de política são todas negativas à corte. Exemplo:
- Prepare o seu orçamento. Querem ressuscitar a aposentadoria especial de deputados e senadores.
- Atenção, sequestradores. Atenção, estupradores. Os seus crimes podem ter penas mais curtas.
São poucas manchetes, residuais e abertamente restritivas. Uma das mais expressivas no período:
- Notícias do Planalto Central: meio milhão de servidores ficam sem aumento.
Era sobre o aumento dado a uns poucos milhares, deixando milhões fora. Tudo o que vem do Planalto, Executivo ou Legislativo, é questionável, negativo, infame.
A política representativa, como a conhecemos há pouco, já acabou, no JN.
A novidade ou a exceção é o Movimento Sem-Terra. Mas também aí o maior telejornal brasileiro (em lenta decadência de audiência) privilegia a emoção e a imagem.
No choque da polícia com os sem-terra, é a imagem que dá a manchete. O mesmo, no tráfico de mulheres. No salvamento da elefanta. Na pegadinha do supermercado. Na poluição em São Paulo. No filho de Malu Mader.
Sequência de manchetes, sexta passada:
- Cenas chocantes. Miseráveis submetidos à escravidão.
- Cenas revoltantes. Menino segue passos do traficante.
- Mudança de cena. Paulistanos buscam paz e felicidade longe da cidade grande.
Cenas chocantes, cenas revoltantes, de paz e felicidade. Nada do Planalto Central.

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