São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 1997
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Quem quer um goleiro "made in Brazil"?

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Meus amigos, meus inimigos, não me manifestei até agora sobre a pendenga dos goleiros na seleção, pois julgava que era muito cedo.
Faltam ainda nove meses para a inscrição definitiva para a Copa da França, e, até lá, muitos gols podem passar debaixo das traves brasileiras.
Além disso, o velho Lobo do fut Zagallo parece brincar de esconde-esconde com a opinião nacional: quando pedem, ele não convoca, quando param de pedir, ele convoca.
Pois bem, resolvi prestar atenção nos especialistas. Waldir de Moraes, talvez o melhor treinador de goleiros do país, não escolheria o Taffarel como titular.
Emerson Leão, que é do ramo e o atual técnico de Taffarel no Atlético, segundo tudo indica, também não.
Goleiro "made in Brazil" não é produto de exportação. Temos vocação competitiva para vender pé-de-obra qualificado, mas para mão -não só no futebol, como se sabe- a coisa fica difícil, aliás, como Taffarel sabe muito bem.
*
A Jamaica ("Jamaica, no problem, Jamaica, no problem", como se diz) poderá ir à próxima Copa do Mundo?
Era tudo o que a gente queria: o ritmo do reggae no templo maior do fut.
Vai ter festa no reino de Jah, de Alá, de todo os deuses e orixás. Fico imaginando a felicidade que essa notícia traria para o nosso herói Bob Marley, que não cantou, mas bateu bola no Brasil nos domínios de Chico Buarque (uma das fotos mais belas da história do futebol é de Bob Marley rolando a menina no país do futebol).
A Jamaica na Copa seria um momento de pura poesia, de pura magia, que justifica uma bicicleta de Leônidas, um drible de Canhoteiro, um outro do Edu, uma folha seca de Didi, uma canção de Gilberto Gil, um show do Jorge Ben Jor, todo o mangue do Chico Science e todo olodum e teenbolada do Carlinhos Brown, toda malemolência de um baile reggae em São Luís do Maranhão.
Quando eu era menino, a camisa mais bonita do Barretos levava as cores da Jamaica: verde, amarelo e vermelho (era o "tricolor da paz", que depois virou "touro do vale" -o meu "Barretos Bull's" sem ninguém que se pareça, no futebol, com o basquete do Air Jordan).
O futebol, moçada, não é apenas tática e técnica: é amor, é poesia, é emoção, é história. O futebol constrói uma moral, uma ideologia, um sentido de justiça e de injustiça e, sobretudo, nos ensina a viver com o imponderável.
Adeus, não. Diga até breve.

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