São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 1997
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Festival cancela seleção SP

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Azar dos paulistas: a 9ª MostraRio, uma das melhores edições do evento, pela primeira vez deixa de apresentar uma seleção em São Paulo. Felizmente, parte dos destaques estarão também no próximo mês na 21ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
O corte radical na lista de convidados, a saída de Adhemar de Oliveira da direção-geral e a extinção do braço paulistano são quase compensados pelo forte programa. A seleção 98 vai muito além do tímido perfil de vitrine de pré-estréias ao qual tinha se adaptado o principal festival carioca.
Para quem pretende se atualizar sobre o melhor da não tão forte safra deste ano, dois ciclos são obrigatórios. "Panorama" traz uma espécie de festival dos festivais. Já "Expectativas" reúne uma impressionante seleção das revelações mais recentes do circuito internacional.
Cannes-97 é a fonte mais marcante dos títulos de "Panorama". Uma das duas Palmas de Ouro, o japonês "A Enguia", de Shohei Imamura, marca presença. A outra, "O Gosto da Cereja", do iraniano Abbas Kiarostami, vem para a mostra de SP. Ambos os eventos vão exibir o musical iluminista "O Destino", de Youssef Chahine, premiado pela carreira e não pelo filme com o Grande Prêmio do 50º Festival. A sutileza faz toda diferença.
Sugiro não levar a premiação muito a sério e fixar-se nos verdadeiros momentos de criação do festival. "Jogos Perigosos", de Michael Hanecke, é de longe o principal, mas exige estômagos fortes. "O Doce Amanhã", de Atom Egoyan, é um drama de intricada estrutura.
Já "Tempestade de Gelo", de Ang Lee, parece John Updike revisitando a América na agonia do governo Nixon. Por falar em presidente, Clint Eastwood tempera com seu tradicional ceticismo o atual filão em torno do ocupante da Casa Branca em "Poder Absoluto".
O "Panorama" não se esgota aí. Confira como Aleksandr Sokurov é o maior talento em atividade no cinema russo em "Mãe e Filho", premiado em Berlim. Depois da vitória em Veneza, o japonês Takeshi Kitano é o nome da hora. O Leão de Ouro "Hana-Bi" vem a São Paulo e não ao Rio, mas o filme anterior de Kitano, "Juventude Perdida", é um dos destaques já deste primeiro final de semana da mostra carioca.
No ciclo "Expectativa", escolher não é o problema, mesmo se tratando de filmes (ainda) sem grife. Feche os olhos e confira o que der de seus 18 títulos: a média não decepciona dentre as grandes promessas da safra 97.
Por exemplo: "Domingo é Dia" ganhou o Sundance, "Suzaku" levou a Câmera de Ouro para melhor estreante de Cannes, "Minha Vida em Cor-de-Rosa" foi o cult gay das paralelas lá, "O Mito das Impressões Digitais" acaba de fazer barulho em Toronto.
Tudo isso em apenas duas das mostras. Há ainda obrigatórios ciclos celebrando os 70 anos do filme sonoro, a obra de Ozu e antigos documentários franceses sobre mestres do cinema, de Gance a Godard. A "Première Brasil" lança o esticado "A Ostra e o Vento", o belo "Miramar", de Bressane, e o promissor "Como Ser Solteiro no Rio de Janeiro", da estreante Rosane Svartman. Enfim, é um cardápio e tanto.

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