São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 1997
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O consenso em Brasília

CRISTOVAM BUARQUE

O final do século está reservando duas surpresas: a cada dia, a humanidade se faz mais global e, ao mesmo tempo, mais desigual.
A continuar o atual rumo, dentro de poucos anos haverá uma só sociedade global internacional de pessoas ricas, ao lado de uma sociedade de pobres. Na mesma velocidade com que a humanidade caminha para a integração internacional, por meio das fronteiras nacionais, ela marcha para a desintegração social dentro de cada país.
Não há como evitar tecnicamente o caminho da integração mundial, mas é inaceitável tolerar eticamente o da desintegração social. Diante da humanidade estão dois caminhos: o da globalização perversa e da desigualdade crescente ou o da construção de uma globalização sem exclusão.
É esse último caminho que resta às pessoas que não aceitam o rumo ao desastre ético de uma sociedade dividida. E esse é o tema do 2º Congresso Internacional de Consciência e Ética, que ocorrerá em Brasília de amanhã a 22 de setembro. Pessoas de várias partes do Brasil e de diversos países vão se reunir para discutir o futuro, apontando alternativas à atual marcha para uma humanidade dividida.
As pessoas que não estão satisfeitas com a trilha que o mundo está seguindo não desejam voltar às propostas anteriores. Não acreditam que a utopia será construída com base na privatização, na primazia da moeda, na abertura total dos mercados nacionais e muito menos na liberdade do mercado.
Mas essas pessoas tampouco têm nostalgia do contrário: a estatização, que privilegiou sobretudo grupos corporativos, a inflação, que concentrou renda, o protecionismo, que trouxe vantagens para os grupos multinacionais, e um planejamento que permitia os erros dos tecnocratas.
O que está em jogo é mais do que construir novos caminhos: é inventar novos objetivos. No mundo de hoje, não basta melhorar a distribuição de renda; é preciso criar um novo conceito de riqueza. Uma riqueza que possa efetivamente ser distribuída.
Cinquenta anos atrás, o mundo saía de uma grande guerra mundial e entrava em um momento de reconstrução também mundial, graças ao Plano Marshall. Esse plano retirou a Europa das ruínas econômicas e ajudou a deslanchar o desenvolvimento dos países periféricos.
Passadas essas cinco décadas, o mundo está rico como nunca antes se imaginou e desigual como nunca se pensou. As ruínas econômicas foram substituídas por ruínas sociais.
É hora de um novo plano, que retire a humanidade das ruínas sociais que rodeiam as riquezas de cada sociedade, duas realidades separadas por uma espécie de "cortina de ouro". Esse foi o tema da Cúpula Regional da América Latina e do Caribe para o Desenvolvimento Político e os Princípios Democráticos, ocorrida em julho último em Brasília.
O desafio dessa cúpula regional era o de formular idéias para um século novo, com globalização, mas sem exclusão. No documento final do encontro, sob o título "Governar a globalização -o consenso de Brasília", os participantes superaram o desafio e apontaram caminhos. São apontamentos que estarão presentes agora, de novo em Brasília, no Congresso Internacional de Consciência e Ética.

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