São Paulo, sábado, 20 de setembro de 1997
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Arte convive com escândalo

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Você se escandalizaria se um dos mais importantes museus do mundo comprasse um trabalho de um fotógrafo brasileiro que retrata um rapaz na cama, nu, com as pernas abertas e genitais à mostra?
E se um boi cortado ao meio e embebido em formol percorresse com sucesso os principais museus e galerias do mundo?
O primeiro exemplo refere-se ao museu espanhol Reina Sofía, que comprou uma fotografia do brasileiro Marcelo Krasilcic. O segundo, é obra de Damien Hirst, que com seus animais cortados, já está na conceituada coleção Saatchi.
Escandalizar-se hoje com qualquer um dos dois exemplos é escandalizar-se com a própria história da arte, já que, desde os anos 10, com Duchamp e seus "ready-mades", o que determina o fato da arte ser arte é o gesto criador do artista e o conceito que está embutido no trabalho. Acabou a necessidade de beleza e o virtuosismo no domínio de uma técnica artística.
Para o espectador, certamente é difícil aceitar esses preceitos, mas, como já observou a curadora Lisette Lagnado, "um dos motores da arte é justamente o descompasso entre a proposta do artista e aquilo que o público pode aceitar".
A batalha que o artista trava hoje é pela recuperação do valor da imagem, banalizada pela superexposição imposta pelas mídias.
É preciso saber ver que qualquer o objeto -por mais abjeto que seja- sempre pode carregar um desejo artístico embutido.

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