São Paulo, sábado, 20 de setembro de 1997
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O FANTASMA DA DEFLAÇÃO

Técnicos do Dieese e agora também da Fipe viram na pequena deflação de agosto um sinal de que a economia estaria tendendo para a recessão. A queda dos preços indica de fato um arrefecimento do poder de compra. Mas seria precipitado concluir daí que o desempenho econômico entrou em rota descendente. Outros indicadores sugerem um crescimento baixo, mas estável.
Do ponto de vista político, parece improvável que o governo permita uma significativa deterioração do nível de consumo e de emprego num ano eleitoral. Quanto à inflação, o Dieese ressalta que os preços dos bens submetidos à concorrência vêm caindo há 12 meses -o índice geral só não teria sido negativo antes devido à alta das tarifas públicas e dos preços em setores nos quais não há competição. A Fipe destacou o baixo crescimento da massa salarial e a queda de preços e de vendas.
São perspectivas que, de modo geral, confirmam a avaliação de que os ganhos de renda promovidos pelo Plano Real estão praticamente esgotados. Mesmo com a economia pouco aquecida, porém, é praticamente certo que a inflação anual continue positiva, ainda que baixa.
O índice de preços do IBGE, calculado nacionalmente, mostra essa tendência. Em dezembro último, a inflação do ano de 96 fechava em 9,1%. Nos últimos 12 meses, até agosto de 97, acumulava apenas 4,3%. Pelos cálculos da Fipe, essa porcentagem é de 4,6%.
A questão está em saber se a opção por inflação e crescimento baixos é inevitável ou se as políticas de contenção foram além do desejável. Fipe e Dieese crêem na segunda hipótese.
Num ano eleitoral, ao que tudo indica o governo tomará providências no sentido de manter razoável taxa de crescimento. Mas é bom lembrar que, no atual modelo de âncora cambial e dependência de financiamento externo, querer mais crescimento é um pecado que pode não ter perdão.

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