São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sérgio Motta renuncia à cúpula do PSDB

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Sérgio Motta (Comunicações) aprofundou ontem a crise no partido do presidente Fernando Henrique Cardoso ao protocolar sua carta de renúncia a um dos 17 cargos da cúpula do PSDB.
A carta significa uma dupla derrota de Motta. Primeiro, ele tentou anular a filiação ao PSDB do ex-governador Nilo Coelho (BA). Sem sucesso, o ministro trabalhou para derrubar da presidência do partido o senador Teotonio Vilela Filho (AL), avalista da filiação com o apoio dos tucanos baianos.
"A confirmação da filiação compromete e abala o PSDB", afirmou ontem o ministro, ao divulgar, no início da noite, as duas páginas de sua carta de renúncia.
No texto, Motta diz que a entrada de Nilo Coelho, "por sua vida pregressa, história, alianças, associações, sócios etc., representa, simbolicamente, um desvio claro" do compromisso político, ideológio e programático do PSDB".
A filiação de Nilo Coelho foi ratificada informalmente pela cúpula do PSDB na noite da última quinta-feira. A decisão deverá ser formalizada na reunião da Executiva marcada para hoje.
A operação deflagrada por Motta para substituir a atual direção tucana foi abortada com o apoio que Teotonio recebeu, na sexta-feira, de governadores, líderes e parlamentares do partido.
Segundo apurou a Folha, FHC ficou neutro no episódio -tanto na filiação de Nilo Coelho como na tentativa de substituir o presidente do partido.
Sem alternativa, Motta cumpriu a ameaça que fizera na semana passada, em reunião turbulenta no apartamento de Teotonio, cujo vazamento foi criticado ontem pelo ministro: "Esse é o mal da política: não ter lealdade".
Motta deixou o posto de vogal e ficará sem voz na Executiva Nacional do PSDB. Deixou também o Diretório Nacional do partido.
Mas os tucanos não sabiam avaliar ontem se a disputa que levou à renúncia do ministro também diminuirá sua influência nos rumos do partido e na estratégia da reeleição de FHC.
Pesadelo e 'partido ônibus'
Na carta de renúncia, Motta diz que trabalhará "intensamente" para uma reavaliação do futuro do PSDB, "esperando que esse pesadelo termine e o partido retome seus caminhos de comprometimento integral com a ética, a moral".
Na entrevista, o ministro disse que o partido deve enfrentar o debate ou "acabar".
Sérgio Motta foi quem mais estimulou o aumento das filiações ao PSDB desde as eleições de 94 e acabou rompido com a cúpula tucana pelo resultado da própria política de crescimento da legenda.
Na carta protocolada ontem no PSDB, Motta critica a política de abertura do partido, chamada por ele de "partido-ônibus".
Há menos de 15 dias, o ministro classificou a filiação de Nilo Coelho de "profundamente desgastante" para a imagem do partido. Teve o apoio dos governadores Eduardo Azeredo (Minas Gerais) e Tasso Jereissati (Ceará) ao pedir a anulação da filiação.
Políticos do PSDB baiano resistiram. O presidente do partido no Estado, Jutahy Magalhães Júnior, calculou que a filiação de Nilo Coelho somará de 150 mil a 200 mil votos à legenda nas eleições de 98, principalmente no interior da Bahia.
Nilo Coelho tem dinheiro para financiar a campanha e um canal de televisão. Com o novo quadro, a expectativa dos tucanos baianos é eleger entre oito e nove deputados federais nas próximas eleições.
O principal projeto é resistir ao quase monopólio que o PFL exerce no Estado, sob o comando de Antonio Carlos Magalhães, presidente do Senado e um dos principais parceiros do projeto de reeleição.
A crise do PSDB começou com a dissidência do ex-governador Ciro Gomes, possível candidato de oposição ao presidente.
Agravou-se com a decisão do governador Mário Covas de não disputar a reeleição. O partido decidiu esperar que Covas volte atrás até o início do ano que vem. Por enquanto, ficará sem candidato ao governo de São Paulo.

Texto Anterior: Igreja inaugura 11 templos
Próximo Texto: Com 4 adesões, PFL triplica sua bancada de governadores
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.