São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 1997
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Oposição à união

JANIO DE FREITAS

O encontro marcado para quinta-feira pelos partidos de oposição e mais o PPS (este, um tipo original de oposição que vota na Câmara com o governo) tem, como pauta, o exame das possibilidades e condições da união em torno de um candidato comum à Presidência. Na verdade, porém, haverá uma só questão fundamental a discutir.
Uma divergência de difícil transposição separa o PT e os demais partidos. Estes consideram que Luiz Inácio Lula da Silva não atrairia, para a candidatura oposicionista, os setores decepcionados com o governo de Fernando Henrique Cardoso, cada qual com seu motivo. E tal acréscimo ao eleitorado sempre oposicionista é que deslocaria as melhores potencialidades eleitorais, de Fernando Henrique para uma alternativa assimilável por maior número de segmentos sociais.
O encontro de Miguel Arraes com o petista Cristovam Buarque, governador do Distrito Federal e aspirante a possível candidato, foi um último sinal que o governador pernambucano quis emitir ao comando do PT, sobre sua restrição à candidatura de Lula. O vai-e-volta de Brizola, acenando com inacreditável disposição de ser vice na chapa de Lula, deve ser entendido pelo segundo lance: a disposição de examinar outro nome, a pretexto do constrangimento com o pouco entusiasmo petista por sua oferta.
Lula e José Dirceu têm reiterado que o PT está aberto à avaliação de outros nomes, mesmo que não-petistas. Mas o que predomina no PT, orientando sua ação interna e na relação com outros partidos, é a convicção de que Lula tem um patrimônio de votos, já demonstrado em duas eleições presidenciais, que o comprova como maior líder popular do país e candidato natural. O comando petista quer a união dos oposicionistas, sim, mas em torno do seu candidato e sendo Lula este candidato.
Como os outros partidos estão terminantemente decididos a não aceitar nova candidatura de Lula, que consideram restritiva, a reunião da união só promete maior desunião.
Às avessas
Na mais recente obra da sua ociosidade ministerial, o artigo "O bom governo", Bresser Pereira diz que "o presidente não pretende ter todas as respostas". Como ousa Bresser Pereira, maculando a obra-prima de adulação, fazer tal afirmação? Fernando Henrique não apenas pretende ter, como tem todas as respostas.
E aí é que estão o seu problema e a desinteligência da sua inteligência.
Grave
A narrativa do acesso repentino e sem causa de Sérgio Motta, no almoço da cúpula do PSDB na semana passada, deveria mais do que magoar os seus correligionários tão brutalmente ofendidos: deveria, sobretudo, preocupá-los.
A vociferação de Motta e a frequência sempre crescente dos acessos já são conhecidos, mas uma e outra, além de certos níveis, deixam de ser gaiatices e grosserias, para ser outra coisa.

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