São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 1997 |
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Pintura era espontânea e catártica
OLÍVIO TAVARES DE ARAÚJO
Entre as muitas explicações possíveis, uma de ordem mercadológica. Os preços de Mabe tinham ficado tão altos que, para continuar vendendo, ele era obrigado a ir reduzindo os tamanhos dos quadros. E, em pequeno formato, definitivamente, sua força se esvaía. Esse funesto sucesso de mercado se deveu a uma intersecção de fatores até alheia à vontade do artista. Primeiro, mesmo sua pintura mais exigente e mais séria sempre foi, também, bonita, ornamental, decorativa. Agradava inevitavelmente ao público da época. Segundo, Mabe foi o homem certo na hora e lugar certos. Quando a arte abstrata informal se impunha no Brasil, lançada e avalizada por meio de bienais, surgia esse japonês pequenino, mas vigoroso, trazendo-lhe o influxo e a elegância da gestualidade oriental. Terceiro, o prestígio rápido e conspícuo. Para ganhar o prêmio de Melhor Pintor Brasileiro na 5ª Bienal de São Paulo, Mabe teve que se naturalizar às pressas. Logo virava artigo de exportação, fazendo sucesso nos EUA e no Japão. Os bons quadros de Mabe eram inquestionavelmente convincentes -embora nunca tenham aprofundado certas questões mais transcendentes da pintura. A rigor, nenhum abstracionista informal brasileiro -com exceção de Iberê Camargo- as aprofundou. A melhor pintura de Mabe era espontânea e catártica, fluente, toda de dentro para fora, um jogo decisivo de tudo ou nada, fundada no que poderíamos chamar de convicção interior. Havia nela algo em comum com a tradicional luta japonesa de sumô. Nela, dois imensos contendores se olham e se intimidam longamente, até que um deles ataca como um touro, e tudo se decide em dois ou três minutos. Parece que, em algum momento da carreira, Mabe perdeu essa capacidade de acumulação -seguida de violento extravasamento- de energia. Mas que ele a teve é fato incontestável, e que ela embasou e legitimou sua pintura, também. Vista hoje, a produção desse grupo se ressente da falta de densidade e drama. Mabe -quando acertava-, não. Texto Anterior: Família quer fazer museu Próximo Texto: Caso Bodega tem denúncia Índice |
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