São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 1997
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Real divide opiniões em Hong Kong

Replay da Ásia é descartado

CELSO PINTO
ENVIADO ESPECIAL A HONG KONG

O Brasil, ontem de manhã, parecia bem diferente, conforme o lado da agitada baía de Hong Kong em que se procurasse vê-lo.
Os investidores e banqueiros que ficaram na ilha de Hong Kong, no Hotel Marriott, tiveram uma visão otimista e confiante do país, num seminário da Câmara Brasileiro-Americana de Comércio.
Quem atravessou a baía e foi ao Hotel Shangri-La, num café da manhã organizado pelo Banco Pontual, saiu com uma visão bem mais crítica.
No Marriott, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, disse que nos 30 anos em que frequenta reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI), nunca viu o Brasil chegar numa situação melhor.
No Shangri-La, o ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore argumentou que há uma inconsistência no Plano Real, por falta de uma política fiscal adequada.
Os argumentos de Malan e do presidente do Banco Central, Gustavo Franco, também presente, são conhecidos. Malan garantiu que ganhos de eficiência vão reverter os déficits externos e, no meio tempo, os déficits serão financiados com tranquilidade, principalmente com investimentos diretos.
O cenário fiscal, por sua vez, tem melhorado substancialmente e as reformas devem ser aprovadas. Não só as existentes. "Muitas reformas precisarão de um segundo round", disse.
Novas reformas
O economista André Lara Resende está trabalhando em três: ampliação da reforma da Previdência, reforma fiscal na linha divulgada pelo governo na semana passada e do mercado de trabalho.
Gustavo Franco disse que um ataque especulativo contra uma moeda, como ocorreu na Ásia, "é o ato final de políticas decadentes". Na medida em que "a economia vai-se enfraquecendo, ela pode ser destruída por um fundo de hedge (especulativo)". Não é o caso do Brasil.
Visão de Pastore
Pastore lembrou que, ao se apoiar principalmente na política monetária e juros reais de 12% a 14% ao ano, o governo aumenta os gastos com juros. A curto prazo, nos próximos dois anos, a privatização pode evitar um aumento da dívida interna e externa, mas é um dinheiro temporário. A consistência do plano só acontecerá com uma política fiscal muito mais forte.
Ele admitiu que esteve muito pessimista em relação ao déficit da balança comercial, que agora projeta no máximo em US$ 10 bilhões este ano. Continua a supor, contudo, que a tendência de crescimento das importações é de 15% ao ano, e das exportações, hoje, de 7,4% (ou 4,1%, excluídos os produtos básicos). A tendência, portanto, continua preocupante.
A única ameaça possível à reeleição de Fernando Henrique, a seu ver, seria uma crise cambial. Ele não vê, contudo, paralelos entre a situação da Tailândia e a do Brasil.
Visão do HSBC
O seminário da Câmara teve uma visão não oficial de peso num discurso do presidente do Hongkong and Shanghai Banking Corp. (HSBC), "sir" William Purves. Mesmo elogiando pontos como o controle inflacionário e a privatização, ele criticou o peso excessivo da política monetária no Brasil.
"Um alto nível de juros desencoraja empréstimos comerciais de pequeno e médio porte", lembrou. Para manter a qualidade dos empréstimos, esses empréstimos acabam crescendo menos. Os bancos brasileiros, disse, conseguiram no passado lucrar com a inflação, "mas a longo prazo dependem dos clientes".
Purves mencionou também a necessidade de avançar a reforma administrativa e lembrou do risco de uma desestabilização da moeda. Existem, contudo, quatro razões para confiança: o nível alto de reservas, o fato de o déficit externo não ser tão grande quanto o do México em 94, a privatização e o fato de que a política monetária deve ser mantida apertada.
Ele deixou claro que o HSBC comprou o Bamerindus apostando que o mercado bancário brasileiro tem um enorme potencial de crescimento.
A expansão, portanto, poderia ser feita não tomando mercado de outros, o que exigiria uma competição mais acirrada (e margens menores), mas ampliando o mercado.

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