São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 1997
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Mostra de Cinema 1997 é dos vencedores e marginais

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em sua 21ª edição, que acontece entre 17 e 31 de outubro, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo terá como atrações mais cintilantes os vencedores dos festivais mais importantes do mundo.
Estarão no evento o iraniano "Gosto de Cereja", de Abbas Kiarostami, ganhador da Palma de Ouro em Cannes, e o japonês "Hana-Bi", de Takeshi Kitano, vencedor do Festival de Veneza.
Outro japonês premiado, "A Enguia", de Shohei Imamura, que dividiu a Palma de Cannes com Kiarostami, está dependendo de confirmação, mas sua vinda é praticamente certa.
Aliás, o grande Imamura (de "A Balada de Narayama" e "A Mulher Inseto") terá outros 11 filmes seus exibidos na mostra. É dele a única retrospectiva especial programada para este ano.
À parte isso, o evento trará os novos filmes de cineastas consagrados como Manoel de Oliveira ("Viagem ao Princípio do Mundo"), Robert Altman ("Jazz 34"), Stephen Frears ("O Furgão"), Andrzej Wajda ("Miss Nobody") e Raoul Ruiz ("Genealogias de um Crime"), entre outros.
Mas o diretor da mostra, o crítico Leon Cakoff, prefere destacar outros títulos, menos óbvios: "O Rio", estranho drama familiar do chinês (de Taiwan) Tsai Ming-liang, "O Destino", libelo antifundamentalista do egípcio Youssef Chahine, autor endeusado pela crítica francesa, o francês "Nível Cinco", de Chris Marker, e, por fim, o americano "A Ilha de Lesbos", de Jeff B. Harmon.
Há ainda dois programas de largo fôlego incluídos na mostra. Um deles é a série canadense "Yi-Yo Ma", com seis episódios inspirados em suítes de Bach e dirigidos por cineastas como Atom Egoyan, Patricia Rozema e François Girard (de "32 Variações sobre Glenn Gould").
O outro é o par de longas "The Kingdom" e "The Kingdom 2", do dinamarquês Lars Von Trier. O primeiro filme, já exibido há dois anos na mostra, tem quatro horas de duração. O segundo tem cinco.
O restante da programação, que incluirá por volta de 150 longas-metragens e 50 curtas, ostenta a diversidade que já virou a marca registrada do evento.
Pluralidade
Há filmes de todas as partes, do Equador à Ucrânia, da Eslovênia à Tailândia.
Apesar de continuar aberta às cinematografias mais remotas e marginalizadas do mundo, a mostra deste ano passou por uma seleção mais rigorosa, segundo seu diretor. "Em outros anos fomos muito complacentes com novas tendências e diretores", explica.
Manter a pluralidade, entretanto, é uma posição de princípio para Cakoff. "Vejo muita gente da área de vídeo e cinema falando em crise, mas a verdade é que ninguém investiu na diversidade, ninguém criou platéias novas. Pelo contrário: só quiseram imbecilizar a platéia, oferecendo sempre a mesma coisa. Agora pagam o preço", desabafa o diretor.
Como costuma acontecer, a mostra só conseguiu viabilizar-se na última hora, graças ao patrocínio da emissora de TV por assinatura HBO, da Telesp e da Secretaria de Cultura do Estado, por meio do Projeto de Integração Cinema-Televisão, da TV Cultura. O patrocínio da Volkswagen ainda está em negociações.
Cakoff não esconde seu aborrecimento com dois dos patrocinadores da edição passada, o American Express e a Blockbuster, que, segundo ele, deixaram para avisar "em cima da hora" que não iriam mais patrocinar o evento.
Júri e convidados
O júri internacional já tem quatro nomes definidos: os cineastas Hal Hartley (de "Confiança" e "Amateur"), Antonia Bird (de "O Padre") e Carla Camurati (de "Carlota Joaquina"), além do publicitário Alexandre Gama.
Entre os convidados especiais, Cakoff tenta trazer o diretor Abbas Kiarostami e o ator/diretor polonês Jerzy Stuhr.
O circuito de cinemas da mostra já está definido: Cinesesc, Masp, MIS, Cinearte (que entra no lugar do Paulistano), Centro Cultural São Paulo e Maksoud Plaza.
Na Internet, o endereço do "sítio" da mostra, como gosta de dizer Cakoff, é www.mostra.org.

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