São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 1997
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Rede prostituía cem meninas, diz polícia

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

A polícia procura mais de cem meninas e adolescentes de 11 a 15 anos que foram usadas pela rede de prostituição infanto-juvenil descoberta em São Paulo.
A rede negociava a virgindade de meninas a um preço que podia chegar a R$ 2.000 por quatro encontros. Também aceitava encomenda de programas com adolescentes grávidas.
Pelo menos 30 pessoas, a maioria empresários, contatava o telefone de um apartamento da rua José Antônio Coelho, na Vila Mariana (zona sudoeste de São Paulo), para receber as meninas. Os nomes estão em três agendas apreendidas pela polícia e nas conversas telefônicas da moradora do imóvel, Jane Viana dos Santos, 37.
Acusada de liderar a rede de prostituição, Jane nega o comércio de meninas e de adolescentes. Ela disse que intermediava mulheres adultas que se passavam por adolescentes para os clientes. "Só surgiu uma virgem", afirmou.
As conversas foram gravadas pela polícia com autorização judicial. Além dos empresários, Jane, que se disse dona-de-casa, afirmou que agenciava prostitutas para políticos, jornalistas e policiais, mas não revelou os nomes dos clientes.
Segundo o delegado, a rede funcionava havia cerca de um ano. As adolescentes eram apresentadas à Jane por outras adolescentes. Todas são pobres e moradoras da periferia de São Paulo ou de cidades vizinhas, como Francisco Morato (Grande São Paulo).
Além de Jane, também foram presos na sexta-feira passada o soldado da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, tropa de elite da PM paulista), Itamar Bueno Teixeira de Castro, 42, e o comerciante Carlos Alberto Santiago.
Três telefonemas gravados no último dia 19 pela polícia mostrariam a negociação entre Jane e o comerciante a fim de que ela apresentasse a Castro três meninas de 15 anos e uma de 16. Durante a negociação, a polícia invadiu o apartamento de Jane. Ela foi presa com o namorado, o policial militar.
O comerciante estava em um motel na Vila Olímpia (zona sudoeste), onde foi preso antes que recebesse as meninas. O policial negou saber das atividades da namorada. O comerciante se negou a depor e a dar entrevista.
Ontem, a polícia ouviu três testemunhas que confirmaram a presença de crianças e adolescentes no apartamento de Jane. "Eu não ia atrás delas. Elas é que me procuravam e pediam trabalho", afirmou Jane.

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