São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 1997
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MOTTA E A CRISE DO PSDB

Ainda são nebulosas as razões que levaram Sérgio Motta a pedir demissão da direção do PSDB. O ministro das Comunicações revestiu seu gesto com um verniz de indignação moral e rebeldia política, protestando contra a filiação do ex-governador da Bahia Nilo Coelho por considerá-la, conforme escreveu na carta ao presidente do partido, um "desvio claro" do "compromisso político, ideológico e programático do PSDB".
A despeito das intenções expressas pelo ministro, sua atitude contribui, ao que parece, para aproximá-lo do senador Antonio Carlos Magalhães, que tem em Nilo Coelho seu principal opositor político na Bahia. Ao longo dos dois últimos anos, é bom lembrar, Motta e ACM vêm mantendo uma constante relação de "inimizade cordial", a qual traduz, entre farpas e afagos, a disputa pela primazia política dentro do grande partido situacionista organizado sob a batuta de Fernando Henrique Cardoso.
Soa estranho, ademais, que Motta venha a público só agora para protestar contra o fato de que o PSDB "começa a reviver a experiência do partido-ônibus, no qual sempre cabe mais um". Foi o próprio ministro quem encampou, desde o início do governo, a idéia de que o PSDB deveria crescer fora dos períodos eleitorais e aumentar sua base de representação na sociedade. A ponto de o ex-deputado Pimenta da Veiga condenar, logo após deixar a presidência do partido, em 95, o "inchaço artificial" do PSDB e atribui-lo principalmente à atuação de Motta, de quem disse que "não tem vida e prática partidária e faz essa coisa (de cooptar novos aliados) sem juízo".
Mas, se as motivações políticas da manobra do ministro ainda não estão claras, uma coisa, porém, é provável. A saída de Motta do comando do PSDB pode desgastar ainda mais uma legenda que já havia sido fragilizada há menos de 15 dias na queda-de-braço que envolveu os governadores tucanos e o presidente Fernando Henrique Cardoso.
A lógica das alianças em torno de FHC parece distanciá-lo do PSDB, o qual, no entanto, paga o preço de ser ainda o principal partido da coalizão governista e passa por um inegável processo de descaracterização ideológica. Por ora, é possível apenas reconhecer os sinais da crise anunciada da social-democracia tucana, e é improvável que ela chegue ao ponto de abalar um dia as pretensões do presidente, de quem Motta, como se sabe, continua fiel escudeiro.

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