São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 1997
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Itamar pode fazer Ciro desistir da disputa

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

O ex-presidente Itamar Franco não só já decidiu filiar-se ao PMDB, como candidatar-se à Presidência. Pelo menos foi o que ele disse a mais de um de seus incontáveis interlocutores da semana. Um deles, o também presidenciável Ciro Gomes, comentou: "Nesse caso, não sou candidato".
A decisão de Itamar foi amadurecendo desde que passou no Congresso o princípio da reeleição. Meses atrás, um de seus amigos lhe perguntou se seria candidato apesar de ter que concorrer com Fernando Henrique Cardoso, seu sucessor e ex-ministro. "Apesar de, não. Sou candidato justamente por isso", respondeu Itamar.
Só agora, na passagem do ex-presidente pelo Brasil, ficou mais claro o sentido da frase: Itamar não se conforma com o fato de o atual governo estar, na sua visão, pretendendo "apagar" a passagem dele pela Presidência.
Nada impede que essa situação se reproduza agora e, no momento fatal, Itamar prefira mesmo disputar o governo mineiro.
A única pressa do ex-presidente (como de qualquer outro candidato) é em termos de filiação partidária: o prazo vence dia 3.
Escolhido o partido, no caso o PMDB, Itamar tem folga até meados do ano que vem para decidir a que cargo de fato concorrerá.
Pesa também para a incerteza o fato de que o PMDB pode, simplesmente, negar a legenda para Itamar candidatar-se à Presidência. Um grupo forte no partido prefere fazer parte da coligação PSDB-PFL-PTB em torno de FHC.
Por isso, a desistência de Ciro em favor de Itamar fica igualmente no congelador. O ex-ministro da Fazenda, depois de uma maratônica conversa de seis horas, na quarta-feira, com o governador Tasso Jereissati (PSDB-CE), decidiu filiar-se ao PPS, o antigo Partido Comunista Brasileiro. Ciro deve formalizar hoje a decisão.
Tasso ainda tentou convencer Ciro a permanecer no PSDB, alegando que, com a carta-renúncia de Sérgio Motta à Executiva peessedebista, o partido fora "acordado", o que permitiria ouvir as opiniões de Ciro.
O ex-ministro não concorda e acha o PSDB um caso perdido. Por isso, filia-se ao PPS e abre o que chama de "processo de debate" sobre um programa de centro-esquerda.
"É esse processo que vai definir se haverá ou não uma frente de centro-esquerda e se eu serei ou não candidato", afirma o tucano.
Até a semana passada, Ciro descartava PDT e PT dessa frente. Agora, acha que o PDT ou ao menos seu líder histórico, Leonel Brizola, mudou de idéia.
Brizola vem dizendo que será o "processo social" que determinará ou não a formação da frente e quem será o seu candidato.
Traduzindo, objetivamente: quem tiver pelo menos 10% das intenções de voto nas futuras pesquisas será o candidato.
Mas, mesmo que a frente de centro-esquerda venha a ser formada, o PT está virtualmente fora dela. O partido não trabalha com a hipótese de aceitar um candidato que não seja de seus próprios quadros.
Na prática, fechou com a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, e, por mais que diga o contrário, espera adesões dos outros partidos e não que o "processo social" defina o candidato.

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