São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 1997
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Morte por Aids recua mais no centro de SP

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

A epidemia de Aids mata mais no centro do que nas áreas nobres ou periféricas de São Paulo, mas isso tende a mudar. É o que mostra pesquisa inédita, que, pela primeira vez, mapeou as mortes em decorrência da doença entre 1994 e 1997 na cidade.
Entre as dez áreas em que foi dividida a cidade no levantamento feito pelo Pro-Aim (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de São Paulo), o centro foi o recordista isolado entre 1994 e 1996.
No período, do total de pessoas que morreram na região, mais de 7% morreram em decorrência da Aids. Percentual é o dobro do registrado em zonas como o Campo Limpo ou Santo Amaro, ambas na zona sul da cidade na mesma época (veja quadro nesta página).
Mas, no ano de 1997, o centro parece ter sido o mais beneficiado pelos novos remédios que têm prolongado a vida dos doentes. A porcentagem dos mortos pela doença caiu para 4,02% do total, empatando com as regiões de Pirituba e Santana/Tucuruvi/Nossa Senhora do Ó, localizadas nas regiões noroeste e norte da cidade, que em 94 registravam 4,67% e 5,09% respectivamente.
Para a Secretaria da Saúde, a explicação mais provável é que a região concentrava nos primeiros anos da epidemia (década de 80) o então chamado grupo de risco: homossexuais e prostitutas.
Entre 80 e 91, a incidência da doença na região central era de 22 casos por 100 mil pessoas, a maior da época, segundo a secretaria.
"Como a doença apareceu no centro, parece claro que as mortes ocorressem lá", afirma Alexandre Grangeiro, coordenador-adjunto do CRT/DST-Aids (Centro de Referência e Treinamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids).
A mudança na distribuição das mortes pela doença na cidade é um indício de que a epidemia esteja saindo da região central da cidade e indo para a periferia. Deixando de atingir homossexuais da classe média para afetar mais as mulheres pobres.
"No início da epidemia, a incidência da doença estava associada aos homens bissexuais e a um padrão de vida mais elevado. Hoje, está mudando", diz Grangeiro.
Entre 1980 e 1991, a incidência na periferia era de 8,5 por 100 mil pessoas, três vezes menor que a do centro. Hoje, deve ter dobrado.
A ida da doença para a periferia também pode ser provada com a pesquisa do Pro-Aim. Apesar de o centro ocupar o primeiro lugar, a segunda posição é alternada -entre 94 e 96- pelas regiões de Itaquera (zona leste) e Pirituba (zona noroeste). Ambas têm uma média de mortes por Aids em relação ao total da região de 5%.

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