São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 1997 |
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Rupia mais barata favorece as exportações da Indonésia
LUIZ CINTRA
A proposta do timorense Ramos-Horta, que conta com a adesão de Portugal, ficou ainda mais remota, já que os produtos do país asiático, um dos "tigres" da segunda geração, ficaram mais baratos em dólar. Fica assim mais difícil o mundo deixar de se interessar por produtos indonésios, que na maioria das vezes são comprados sem que o consumidor se dê conta da origem. Só em toca-fitas, por exemplo, o Brasil importou US$ 16,3 milhões, apenas nos primeiros oito meses deste ano. Computados outros itens, como a borracha natural e os calçados esportivos, o total de compras brasileiras chega a US$ 177,6 milhões, também de janeiro a agosto. A possibilidade desse valor vir a crescer, agora que os preços em dólar tendem a cair, não é pequena. Conflito Essa situação deve servir para reforçar a posição do governo brasileiro com relação ao conflito entre a Indonésia e o Timor Leste, que matou mais de 200 mil timorenses nas últimas décadas e é a origem dos protestos de Ramos-Horta. No Itamaraty, o assunto é tratado com todo o cuidado e segue a tradição de não firmar posição em casos de conflitos internacionais. Na Assessoria de Comunicação do Ministério das Relações Exteriores, a informação é que o Brasil "tende a seguir a posição da ONU (Organização das Nações Unidas)". Isso não significa, no entanto, que o país, como o organismo multilateral, não reconheça a anexação do Timor Leste, em 1975. O Brasil, informa o ministério, defende com a ONU as negociações que acontecem entre a Indonésia e Portugal para tentar encontrar uma solução para o caso. Já com relação à anexação do Timor Leste, o governo brasileiro prefere não ter posição alguma. Pragmatismo Em termos práticos, a diplomacia brasileira trata atualmente de incrementar as relações comerciais com a Indonésia, como aliás é regra no relacionamento com a maioria dos países. É justamente esse o objetivo de uma comitiva de oito empresários de peso que vieram da Ásia para encontros com representantes do empresariado brasileiro, em uma viagem organizada pela Embaixada do Brasil em Jacarta, capital indonésia. Hoje esses empresários, que representam conglomerados com negócios nas áreas têxtil e de produção de óleo de palma, por exemplo, vão estar na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). No fim-de-semana, vão à Bahia e na segunda-feira estarão na federação que reúne as indústrias do Rio de Janeiro. Entre os grupos que estão no país está o Salim, o maior conglomerado do país com ativos que somam US$ 4,5 bilhões. O embaixador do Brasil na Indonésia, Jadiel de Oliveira, que organizou a visita, diz acreditar que o comércio entre os dois países, hoje na casa dos US$ 600 milhões/ano, pode bater o US$ 1 bilhão, em questão de dois anos. "Os empresários indonésios estão muito interessados no mercado brasileiro, principalmente por causa do potencial de crescimento do Mercosul", diz o embaixador. Ele acredita que o relacionamento entre os dois países não vai se limitar ao comércio e deve caminhar também para investimentos diretos. "Alguns empresários já me procuraram pensando em investir na produção de óleo de dendê na Bahia", afirma. Com relação às críticas que a Indonésia sofre com respeito a questões trabalhistas, Oliveira diz acreditar que essas derivam em grande medida da inveja de países concorrentes. "O sucesso acaba criando ressentimento", diz o embaixador. Texto Anterior: Brasil resiste em abrir setor financeiro Próximo Texto: A economia da Indonésia e a questão do Timor Leste Índice |
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