São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 1997
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Mudar a lei Pelé pelo bem do esporte

FRANCISCO DE CARVALHO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O projeto de lei Pelé, que institui normas gerais sobre o desporto, se tornou objeto obrigatório de discussão.
Esta coluna tratará de um único ponto específico, que, a prevalecer, trará efeitos catastróficos ao desporto, aos atletas e ao país, que voltará à incômoda situação de mero observador em competições internacionais.
Trata-se da presumida vedação que aquele projeto trará à faculdade hoje existente para que as entidades desportivas busquem na exploração da atividade de bingo a fonte dos recursos necessários à manutenção e desenvolvimento de suas atividades e dos atletas.
O referido projeto não traz nenhuma menção específica à extinção das licenças hoje existentes. Mas, como também não traz a ratificação das já existentes e/ou possibilidade de futuras licenças, presume-se que a intenção do projeto é efetivamente o fim daquela eficaz forma de custeio e desenvolvimento do desporto, já que revoga expressamente as disposições da Lei Zico.
O que mais nos causa estranheza e dúvidas quanto à sua verdadeira intenção é o fato de o projeto que ora se comenta vir a extinguir uma fonte de recursos que em momento algum onerou os cofres estatais.
As parcerias das entidades desportivas com a iniciativa privada trouxeram um desenvolvimento nunca antes conhecido ao esporte olímpico brasileiro, uma vez que teve financiamento significativo na atividade de bingo.
Citamos o exemplo da Federação de Atletismo no Estado do Rio de Janeiro, que reúne um extenso rol de atletas com resultados excepcionais em competições nacionais e internacionais, todos eles sendo patrocinados pelo bingo Arpoador, entidade com quem mantém contrato.
Os atletas patrocinados pelo bingo constituem hoje uma das maiores forças do atletismo brasileiro.
Sem contar os paraolímpicos, também patrocinados pela mesma fonte.
Ademais, o esporte é a melhor e mais eficaz forma de manter os nossos jovens afastados das drogas e da criminalidade. A nossa federação mantém hoje um importante trabalho de assistência aos jovens carentes, contando com cerca de 1.200 menores.
Os recursos oriundos do bingo Arpoador custeiam ainda 150 atletas adultos, 20 técnicos, ajuda 20 clubes filiados, 60 árbitros, médicos, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas e assistentes sociais, representando, direta e indiretamente, 300 empregos.
Visando a manutenção desse trabalho, a federação já renovou contratos com todos esses atletas de ponta por mais dois anos, valendo-se, para tanto, da expectativa de receber os recursos que advirão da atividade de bingo.
Portanto, sob todos os aspectos e pelo bem do desporto nacional, esperamos a alteração do projeto, no sentido de não extinguir a fonte dos recursos que alavancou o desporto pátrio, sob pena de rasgarmos um exemplo para o país, visto que a parceria Federação de Atletismo do Estado do Rio com o bingo Arpoador foi citada como exemplo nas CPIs instaladas tanto em Brasília quanto no Rio.

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