São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 1997
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LaBute faz thriller cínico

AMIR LABAKI
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O universo de jogos e manipulações do dramaturgo e cineasta David Mamet ("Oleanna") vem à mente já nos primeiros instantes de "Na Companhia de Homens", escrito e dirigido pelo estreante Neil LaBute.
O parentesco se confirma com a evolução da trama, e LaBute acaba coroado como autor do mais poderoso roteiro americano do ano.
Dois jovens executivos viajam juntos numa missão de seis semanas em outra cidade. A caminho, partilham as frustrações amorosas e profissionais.
O sedutor Chad (Aaron Eckhart) propõe ao delicado Howard (Matt Malloy) uma vingança: ambos devem conquistar e abandonar a mesma garota durante o mês e meio de trabalho conjunto.
"Ela vai ligar para a mãe, louca de alegria. Vai voltar a usar maquiagem", tripudia Chad. A vítima acaba sendo Christine (Stacy Edwards), secretária bela e surda.
Os caçadores usam terno e gravata; a caça, "tailleurs" bem-cortados. A selva são salas de escritório, refeitórios assépticos, hotéis para executivos. Promessas e carinhos são as armas de ocasião. Maquiavel é posto a serviço da misoginia.
LaBute tempera com humor negro o estudado desenvolvimento da cilada amorosa. Como disse John Cooper no catálogo do Sundance-97, o filme consegue trabalhar com um pacote explosivo de questões da América atual: a política nos escritórios, o aumento do poder feminino, o assédio sexual.
"A primeira frase que me veio à mente foi: 'Façamos mal a alguém!' O sadismo tem algo de fascinante. Não podemos matar um personagem mais de uma vez, mas podemos feri-lo todos os dias", conta.
"Na Companhia de Homens" resulta um thriller divertidamente cínico e despudoradamente amoral. O mundinho yuppie ganha aqui um de seus retratos mais corrosivos.
(AL)

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