São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 1997
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Nelson Gonçalves regrava os anos 80

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 78 anos e 78 milhões de discos vendidos, o cantor Nelson Gonçalves assume de vez uma postura pop e, sem abrir mão de seu estilo dor-de-cotovelo, lança um disco com regravações de rock e MPB dos anos 80.
O disco "Ainda é Cedo", o 128º de sua carreira, chega hoje às lojas com uma tiragem de fôlego para quem faz sucesso há mais de 50 anos: 500 mil cópias.
Produzido por Robertinho do Recife, o álbum revisita músicas que foram sucesso nas vozes dos Paralamas do Sucesso ("Meu Erro"), Lobão ("Me Chama"), Rita Lee ("Caso Sério"), Cazuza ("Faz Parte do Meu Show") e Legião Urbana ("Ainda é Cedo") etc.
"Quis gravar essas músicas para fazer uma ponte entre o passado e o futuro", disse Nelson à Folha, anteontem, na festa de lançamento do novo disco.
"Ainda é Cedo" não é primeira incursão do cantor no meio pop brasileiro. Em 1987, ele dividiu os microfones com Lobão na valsa "A Deusa do Amor", incluída no disco "Nós".
A atualização do repertório, no entanto, não mudou seu estilo de cantar. As palavras continuam soando com todas as sílabas. "O esmero na pronúncia é uma de minhas marcas."
Para os fãs do Nelson da era dó-de-peito, quando ele dividia as atenções com Orlando Silva e Francisco Alves, o cantor manda dizer que não mudou seu estilo.
"Não fiz um disco de rock, apenas mudei o repertório de canções escolhidas, dando o meu tratamento pessoal às músicas", afirmou o cantor.
Tratamento pessoal, nesse caso, é transpor, para as linguagens do bolero e do samba-canção, versos como os de Herbert Vianna, em seu ska "Meu Erro".
"O segredo é saber achar a dramaticidade na letra da música", disse Nelson, gaúcho de Livramento, que, mesmo com a idade avançada e a saúde debilitada, sabe levar a vida de bom humor.
Malandro
Goma no cabelo e, como todo bom malandro das antigas, vestido de gravata e paletó, Nelson, um ex-boxeador profissional, relembrou na entrevista seus dias na prisão.
Ele esteve preso na Casa de Detenção, em São Paulo, por um mês, por porte de cocaína, em 1966.
"Cheguei à prisão e logo dei um soco na cara do preso que mandava no local. Disse que dali em diante nós dois seríamos os chefes, e todo mundo passou a me respeitar", disse.
Segundo ele, o nome do novo disco é uma provocação para as pessoas que pensavam que sua carreira havia acabado no ano passado, quando ficou dias internado no hospital por causa de problemas respiratórios. "Quis mostrar que ainda é cedo para parar de cantar", afirmou.
O novo disco tem também músicas de Marisa Monte e Arnaldo Antunes ("De Mais Ninguém"), Caetano Veloso ("Você é Linda"), Pino Daniele ("Bem Que Se Quis"), Herbert Vianna e Paula Toller ("Nada por Mim"), João Donato e Abel Silva ("Simples Carinho") e Luis Melodia ("Estácio, Holly Estácio").
O cantor planeja excursionar para divulgar o novo disco, a partir de janeiro. Serão dois meses viajando pelo Brasil para, depois, mostrar o seu trabalho nos Estados Unidos e Japão.
Além das viagens, Nelson prepara o repertório de seu 129º disco para 98, só com músicas inéditas de sua autoria.

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