São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 1997
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Forum invade a Amazônia

ERIKA PALOMINO
DA REDAÇÃO

Como se sabe, a Forum não fez desfile nesta temporada. Dessa forma, ganha o ineditismo característico da passarela o catálogo do verão 97/98 da marca antecipado aqui com exclusividade.
Inspirada nas cores do rio Negro e da Amazônia, as roupas foram fotografadas in loco durante quatro dias no final de julho.
O resultado, 40 páginas em formato quadrado e um papel couché alemão fora de fabricação, é deslumbrante e de longe o melhor trabalho já produzido pela marca -talvez o melhor já produzido também no país.
A equipe, entretanto, é estrangeira -seguindo o processo de internacionalização instalado desde a bem-sucedida campanha com a alemã Ellen von Unwerth. O fotógrafo é o francês Nathaniel Goldberg, um dos talentos da nova geração, ex-assistente do top Mario Testino.
Os modelos são os jovens em ascensão Missy Rayder (capa da "Harper's Bazaar" de julho), Cedric (na última campanha da Calvin Klein) e a novíssima Katy Braitman.
Os três já podem ser vistos nas principais revistas internacionais de moda. A escolha segue a intenção da última campanha da marca, que chamou a quase anônima Annie Morton, que depois estourou no Planeta Fashion. Morton é a linda garota que ilumina a avenida Faria Lima no gigantesco outdoor instalado em frente ao shopping Iguatemi.
Uma selva lá fora
Uma expedição pelo meio de igarapés e rio Negro adentro com uma equipe de moda não chegou exatamente a ser coisa tranquila. O calor, as dificuldades de movimentação e os incansáveis mosquitos eram apenas algumas das realidades.
A fotógrafa brasileira Telma Villas Boas, que fazia assistência para Goldberg, foi picada por uma cobra (instalou-se o caos até descobrirem que o animal não era venenos); uma das produtoras caiu doente; um gorila do hotel Ariaú Jungle Tower agarrou por trás a modelo Katy Braitman -que também teve princípio de pânico por causa dos mosquitos.
Assim, muito do clima denso resultou das adversidades da própria locação. "O rio Negro é cor de coca-cola, não chega a ser a imagem que temos de paraíso, é quase feio. Tudo isso deu outra dimensão à coisa", diz o diretor de arte Giovanni Bianco, que defende para o catálogo o título de mais difícil trabalho de sua carreira.
"Não queríamos correr o risco de cair no déjà vu, não queríamos índios nem fazer algo comum. Por isso foi fundamental a presença da Susanna Cucco (também diretora de arte e sócia), que é italiana e conhece a cultura brasileira. Não queríamos ser turísticos", explica Bianco.
Animais
Segundo ele, a editora Carla Suzzani, da prestigiosa "Vogue" Itália, ficou bastante entusiasmada com o catálogo, pedindo três exemplares.
"Ela diz que acha que o futuro das imagens de moda vai ser este, a volta ao genuíno, às coisas primárias como a natureza, ao mesmo tempo atrevido e contemporâneo", empolga-se.
Outra observação da editora, na opinião de Bianco, também se mostra bem adequada: que em alguns momentos os modelos lembram animais. "Nem foi intencional. Essa cara deles foi mais pelas dificuldades da locação", diz.
Algumas das fotos, de fato, são impressionantes. Numa delas Missy aparece junto à escuridão da floresta amazônica, iluminada somente por lanternas -que ficam de fora da foto. Na primeira imagem, que abre o catálogo, a modelo surge imersa nas águas escuras do rio Negro com o sol sobre seu rosto.
Para garantir esses recursos, as cópias foram ampliadas manualmente num laboratório de Londres, o fotolito foi feito em 110 linhas (para maior definição; no Brasil os catálogos em geral são em 60 linhas) e a impressão foi feita na gráfica italiana Nava Web.
Um dos preciosismos do trabalho é a paginação, em estilo clássico, ganhando apenas faixas que lidam com o brilho e com o opaco do papel -que tem um tom algo amarelado.
Com isso, adquirem diferentes texturas tanto a floresta (como se estivesse molhada pela chuva) como a água e a maquiagem das modelos. "São a ilusão do trabalho", define Bianco.
Os makes também são atração à parte, com assinatura da "beauty artist" Fulvia Farolfi. Usam a referência indígena sem cair em folclorismos ou estereótipos.
A roupa é mostrada de modo suave e tranquilo, sem aparecer de modo ostensivo, às vezes até ficando de fora das fotos. A edição privilegia impressões, sensações e as expressões dos modelos em muitos closes.
Os 30 mil exemplares vão chegar às mãos de formadores de opinião e clientes VIP em todo o Brasil, em sacos feitos de redes de pescador.

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