São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 1997 |
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MAL-ESTAR NO LIBERALISMO Este ano vem sendo marcado em várias e importantes partes do mundo por sinais de frustração social, indícios de desconforto com o resultado das políticas predominantes de ampla liberalização econômica. Tais políticas vigoram quase globalmente, com mais ou menos força. E são também globais, com mais ou menos intensidade, problemas como a corrupção, a crise da educação, a degradação das condições de trabalho, a difusão desigual das tecnologias e a deterioração ambiental. Aumenta a desigualdade entre países ricos e pobres e, em cada país, entre seus cidadãos. Não é, pois, surpreendente a dimensão mundializada do mal-estar no liberalismo. E essa inquietação acaba impondo às próprias elites políticas a necessidade de mudança de agenda. Em questão, a legitimidade de governos em sociedades expostas aos ajustes ditados pelo mercado. Há dois tipos de abalos. Nos países desenvolvidos, em especial na Europa e no Japão, fragilizam-se partidos e coalizões. Ainda na União Européia, a reação contra a reforma do sistema de proteção social força as autoridades a reavaliarem suas receitas fiscais e financeiras. Mesmo nos EUA a reação é visível: da greve vitoriosa do serviço de correios à mobilização sindical contra a extensão do Nafta e a concessão ao presidente Clinton do direito de promover mais facilmente a rodada de liberalização do final do milênio. O outro tipo de abalo ocorre nos países que se encontram "em transição": de economias centralizadas para liberalizadas, de autocracias para democracias, de "subdesenvolvidos" para "mercados emergentes". Uma após a outra, essas sociedades sofrem ataques especulativos, greves de grandes proporções e denúncias de corrupção estrutural, revelando fragilidades políticas recorrentes. Da Coréia ao Leste Europeu, passando pela Rússia cujo presidente agora quer o capitalismo "com face humana", o liberalismo puro e duro perde prestígio mesmo entre os que há pouco defendiam-no com ardor. Se o ano de 1997 evidentemente ainda não configura uma tendência "pós-liberal", diante do protesto social ocorrem no mínimo recuos pragmáticos nas receitas econômicas de ajuste. Vive-se uma busca tateante e nervosa de modelos que ainda estão por ser negociados. Desta vez, sem utopias, espera-se. Próximo Texto: ESCÁRNIO NO CONGRESSO Índice |
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