São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 1997
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ESCÁRNIO NO CONGRESSO

Desalento e indignação. Esses são os termos mais apropriados para traduzir o sentimento diante de certos congressistas que, num único dia, mantiveram a aposentadoria especial para si próprios, estenderam o privilégio para a magistratura e ainda absolveram o deputado Chicão Brígido (PMDB-AC), acusado de alugar o seu mandato, mais um dos inúmeros casos de revoltante falta de ética nas últimas legislaturas.
O palco da primeira decisão foi o Senado, que votava a reforma previdenciária; a segunda foi tomada pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. As duas votações contribuíram assim para desmoralizar irresponsavelmente uma instituição chave da democracia, o Parlamento.
Sobre os privilégios concedidos à magistratura, o presidente do STF, ministro Celso de Mello, disse que "ofende o senso de justiça e a ética republicana, desconsiderando a marginalidade social de milhões de brasileiros". Trata-se disso e de mais um pouco. No momento em que o governo empenha-se em convencer a sociedade de que é preciso sanear a Previdência, ajustar as contas públicas e racionalizar o Estado, muitos de seus aliados no Parlamento atuam sem escrúpulos em sentido contrário e legislam em causa própria.
Esses exemplos de ausência de espírito público, para dizer o mínimo, decorrem em grande medida da irracionalidade do sistema político, que facilita a eleição de deputados de pouca representatividade e baixa qualificação. Uma reforma política, sempre esquecida, certamente ajudaria a tornar esses descalabros menos corriqueiros. Mas causa desânimo a dificuldade, ao que parece imensa, de acabar com a falta de pudor de tantos congressistas.

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