São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997
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BC estuda medida que reduziria os juros

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Está em fase avançada de estudo no Banco Central medida que mudaria a cara do sistema financeiro.
A medida, se aprovada pelo Conselho Monetário Nacional, permitiria a venda de títulos garantidos por empréstimos bancários.
Ao transferir parte do risco do empréstimo do banco para o investidor, essa operação poderia levar à redução dos juros.
"O banco transfere para o investidor, nacional ou estrangeiro, o risco da inadimplência com aquele empréstimo e paga um preço por isso", explica Carlos Fagundes, vice-presidente do Crefisul e da Associação Brasileira de Bancos Comerciais e Múltiplos.
Para ele, a medida daria maior racionalidade e eficiência nas alocações de liquidez e risco.
No limite, US$ 107 bilhões poderiam virar papel. Esse é o total de ativos com operações de crédito em 180 bancos públicos e privados no primeiro semestre deste ano, segundo a Austin Asis.
Resultado para as empresas e consumidores, segundo Fagundes: redução nas taxas de juros ("spreads") cobrados nos empréstimos e ampliação nos prazos.
Joubert Rovai, diretor-executivo do Itau Bankers Trust, acrescenta: poderiam ser vendidos também papéis garantidos por créditos inadimplentes, ajudando a sanear o sistema financeiro, inclusive os bancos estatais. "É tudo uma questão de qualificação exata do risco e de preço."
"Nos EUA, o mercado total é gigantesco. Ajudou a gerar empréstimos para as classes de renda menor, principalmente no setor de habitação", diz Christopher Page, diretor de crédito do HSBC/Bamerindus, que trabalhou no país.
Lá, a operação não trouxe aumento de preços. "Mas, nos EUA, a moeda é forte e conversível, e a taxa de juros, mais baixa."
Ele recomenda a implantação, mas com cautela. Se a procura for muito grande, poderia haver um "superaquecimento da economia", gerando inflação, diz.
Fagundes não acredita no risco inflacionário, pelo menos no primeiro momento. "O mercado cresce lentamente, pois é preciso encontrar o investidor e as operações são complexas."
Segundo Fagundes, no momento há é falta de crédito de médio e longo prazo no Brasil. "Com todos os projetos de infra-estrutura e aumento da capacidade que estão para acontecer, o nosso sistema financeiro precisa ser capaz de suprir a demanda por empréstimos com prazos alongados."
Esse papel, hoje, é do BNDES e do mercado internacional de ações e bônus. Mas só para as companhias maiores, fora raras exceções.
Mesmo se houver aumento excessivo do crédito, diz Fagundes, resta ao governo os tradicionais instrumentos de controle.
"Estamos pedindo igualdade de competição. Os bancos estrangeiros podem efetuar essas operações lá fora e com isso conseguir melhores condições para competir aqui dentro. A medida vai no sentido da desregulamentação."
A liberalização do fluxo de capitais no Brasil foi defendida pelo FMI, na reunião de Hong Kong.
"É um instrumento moderno e positivo", diz o ex-ministro Mailson da Nóbrega. Para ele, "não há risco de pressão inflacionária pois, na maior parte dos casos, não há aumento da moeda em circulação. Se o investidor não aplicasse nesses papéis, aplicaria em outros".
As negociações entre o BC e 12 entidades do setor financeiro -Febraban, BM&F, Bovespa, Anbid, Acrefi, Andima, ABBI, Abel, Abecip, Adeval, Ancor e ABBC- ocorrem desde abril.
A proposta de regulamentação já está na sua 19ª versão. Banqueiros acreditam que a novidade deve ser implementada em breve.

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