São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997
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Mapas literários

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na tentativa de preencher rapidamente as lacunas mais graves de seus leitores com relação à literatura latino-americana, a Oxford University Press está lançando simultaneamente duas antologias de autores do continente: uma de contos e outra de ensaios.
A primeira, de 512 páginas, reúne relatos breves de 52 autores, entre eles nove brasileiros: Machado de Assis, João do Rio, Lima Barreto, Mário de Andrade, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Osman Lins, Nélida Piñón e Dalton Trevisan.
Nas 544 páginas da antologia de ensaios, a representação brasileira é bem menos expressiva, quantitativamente: apenas 7 dos 77 textos.
Nas duas coletâneas, ambas organizadas em ordem cronológica, o objetivo panorâmico é evidente, mas com resultados diversos.
Cânone do continente
"Tentei escolher as melhores histórias, mas também pretendi dar ao leitor de língua inglesa uma idéia do cânone latino-americano a partir de uma perspectiva latino-americana", disse Echevarria à Folha, em entrevista concedida pela Internet. "Temo que os leitores de língua inglesa acreditem que a literatura latino-americana tenha começado com o 'boom' dos anos 60, por isso estou contente de ter podido incluir textos do período colonial, do século 19 e do início deste."
O editor lamentou ter deixado de lado autores importantes como José Lezama Lima, Alvaro Mutis e Alfonso Hernandez Cata. Afirmou, entretanto, que, se o único critério adotado fosse o de qualidade, provavelmente haveria ainda menos autores na antologia, pois ele teria de incluir mais de um conto de escritores como Machado de Assis, Borges, Horacio Quiroga, Guimarães Rosa, Cortázar, Juan Rulfo e García Márquez.
Alguns dos contos do volume são clássicos absolutos do gênero, como "Jardim dos Caminhos Que Se Bifurcam", de Jorge Luis Borges, "Missa do Galo", de Machado de Assis", e "A Terceira Margem do Rio", de Guimarães Rosa.
Outras escolhas, segundo o próprio Echevarria, deverão "surpreender muita gente": "O Calor das Coisas", de Nélida Piñón, e "Estátuas Enterradas", de Antonio Benitez Rojo, entre outros.
Curiosamente, alguns exímios ficcionistas deixados de fora da antologia de contos, como Bioy Casares, Cabrera Infante e Lezama Lima, tiveram textos incluídos na de ensaios.
Ensaios
No "Oxford Book of Latin American Essays", organizado pelo romancista e crítico Ilan Stavans, do Amhearst College, a temperatura política dos temas tem, em geral, um peso maior que a qualidade literária dos textos.
Isso explica, por exemplo, a inclusão de uma carta-manifesto do subcomandante Marcos, líder do Exército Zapatista de Libertação Nacional do México, numa antologia em que foi deixado de fora um fino ensaísta como o brasileiro Sérgio Buarque de Holanda.
A ênfase política da seleção é visível mesmo na escolha dos textos ensaísticos de ficcionistas famosos. De Clarice Lispector, por exemplo, o livro publica uma crônica sobre Brasília; de Jorge Amado, um trecho do memorialístico "Navegação de Cabotagem" em que ele fala de sua estada na ex-União Soviética, nos anos 50. De Graciliano Ramos, uma passagem das "Memórias do Cárcere".

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