São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 1997
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Produzir leite no Brasil é bom negócio?

SEBASTIÃO TEIXEIRA GOMES

Frequentemente se diz que produzir leite no Brasil não é um bom negócio, em razão do pequeno lucro ou até mesmo do prejuízo que esta atividade dá ao produtor.
As estatísticas indicam, porém, aumentos significativos da produção. Nos últimos três anos, a produção aumentou 1,5 bilhão de l/ano. No mesmo período, a produção na Argentina cresceu 300 milhões de l/ano. Ou seja, o aumento no Brasil foi cinco vezes maior.
A explicação está na estrutura da produção brasileira. Muitos produzem pouco e poucos produzem muito. Os produtores de até 50 l/dia correspondem a 50% do número total de produtores, mas respondem por apenas 10% da produção. Os produtores de mais de 200 l/dia correspondem a apenas 10% do total, porém respondem por 50% da produção.
A estrutura assimétrica da produção é também responsável por conclusões equivocadas sobre o comportamento da produtividade do rebanho nacional. Não é correto concluir que a produtividade de leite no país está estagnada, baseando-se em médias influenciadas pela maciça presença de pequenos produtores. Eles devem ser excluídos no cálculo da média, para uma análise correta.
Análises segmentadas indicam que pelo menos a metade dos produtores está totalmente estagnada em termos de produção e produtividade. Em razão dessa estagnação, sua participação na produção total vem se reduzindo a cada ano. Há 20 anos, os pequenos produtores respondiam por 30% da produção; hoje por apenas 10%.
Diante desse quadro é fácil compreender a afirmativa que produzir leite não é bom negócio. Para muitos produtores realmente não é. Para outros, é um excelente negócio. A tabela acima compara o lucro do produtor em três países. 1- Lucro resulta da diferença entre a renda bruta e o custo de produção; 2- A renda bruta é composta pelo valor da produção de leite e da venda de animais; 3- No custo de produção, além dos gastos diretos, estão incluídos o pagamento da mão-de-obra familiar, a depreciação dos investimentos e a remuneração do capital gasto com insumos e fluxo de serviços.
Dos países considerados, o produtor do Brasil é o que tem o maior lucro médio (5,5 centavos de dólar por litro). Porém é o de menor lucro por ano (US$ 1.204). Isso porque a produção média do Brasil (60 l/dia) é 17 vezes menor que a da Argentina e 30 vezes menor que a dos EUA. No leite, tamanho é documento.
Aumento da produtividade é condição necessária, mas não suficiente, para o leite ser bom negócio. Alguns técnicos têm o aumento da produtividade como fim, o que não é correto. Ele deve ser entendido como meio para se aumentar a produção e o lucro.

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