São Paulo, sexta-feira, 4 de dezembro de 1998 |
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Duas ambulantes abandonam jejum FABIO SCHIVARTCHE FABIO SCHIVARTCHE; MARCELO OLIVEIRA
Duas mulheres tiveram problemas cardíacos, passaram por hospitais e abandonaram a greve de fome que um grupo de camelôs promove desde a última terça-feira no largo da Concórdia, no Brás (centro de São Paulo). A saída de Iracema Januário da Silva e Maria Luzia Magalhães Couto dos Santos reduziu de 28 para 26 o número de manifestantes que fazem o protesto, acorrentados. Os ambulantes querem voltar a trabalhar nas calçadas das ruas em torno do largo, o que foi proibido pela prefeitura. Os camelôs que participam da greve desde o início completaram 60 horas sem comer às 18h de ontem. Parte deles não resistiu à desidratação causada pelo calor de 35,7C e foi medicada com soro. Pelo menos 30 pessoas participam da greve indiretamente, ajudando os manifestantes. Os apoiadores levam água e providenciam guarda-sóis para os amigos. Ontem, 31 manifestantes, entre apoiadores e acorrentados, foram atendidos na unidade médica móvel da Secretaria Municipal da Saúde. Três pessoas receberam atendimento hospitalar. A médica Sônia Lehmann afirmou que aplicou soro nos camelôs que chegavam à unidade apresentando vômitos. "Alguns já estavam com confusão mental", disse. Segundo o médico Antonio Carlos Lopes, professor titular e chefe da disciplina de medicina de urgência da Universidade Federal de São Paulo, a greve de fome nas condições em que eles estão, sob o sol e expostos à comida vendida no largo, é pelo menos três vezes pior que a dos sequestradores de Abílio Diniz, que completam 18 dias de greve hoje, em local fechado. "A sensação de fome diante do alimento é maior. Eles podem passar por alterações emocionais, além de alterações no estômago e no esôfago", disse. Durante a madrugada de quarta para quinta-feira, cinco camelôs passaram mal e foram socorridos pela ambulância da Secretaria Municipal da Saúde. Muitos, no entanto, voltam para as correntes e a greve de fome assim que deixam o hospital. É o caso de Maria Teófilo Ávila, que recebeu soro e medicamentos na Santa Casa. "Vou voltar porque me recuso a morrer de fome em casa, sem trabalhar." A noite dos camelôs acorrentados se passa sobre uma cama improvisada de 40 m2, onde eles tentam dormir, amontoados, sobre sacos plásticos, caixas de papelão e colchões furados. Por volta das 20h, quando os outros vendedores ambulantes deixam o largo da Concórdia, as ruas do Brás vão ficando silenciosas. E aí vem o medo. "Sei lá o que pode acontecer. As ruas são muito escuras e podem vir uns moleques sacanear com a gente. Também tenho medo da Guarda Civil Metropolitana (GCM), que já tentou jogar água na gente na primeira noite", diz Afonso José da Silva, 29, um dos coordenadores do protesto. A direção da GCM nega. Muitos não conseguem dormir e dão apoio moral aos companheiros. "Temos de resistir. Você não pode nos abandonar", disse Raimundo Barros Trajano, 33, por volta das 3h de ontem, a um de seus colegas que pensava em encerrar a greve de fome. Texto Anterior: Fertilização tem linha de crédito Próximo Texto: Quatro vestibulares encerram inscrições Índice |
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