São Paulo, sexta-feira, 4 de dezembro de 1998
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BC rebate tese que pede desvalorização

GUSTAVO PATÚ
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O ano que vem será o último período de forte desvalorização do real. A partir de 2000, as cotações do dólar terão maior liberdade de flutuação e a correção do câmbio será "marginal", disse ontem o diretor de Política Monetária do Banco Central, Francisco Lopes.
Ou seja: a política cambial, o componente mais polêmico do Plano Real, vai mudar sim, mas para reduzir o ritmo de desvalorização que vem sendo adotado desde março de 1995.
As afirmações de Lopes, em seminário promovido no Rio pela Fundação Getúlio Vargas, foram em resposta a críticas e ponderações feitas pelos demais debatedores.
A intervenção mais surpreendente foi a do antecessor de Lopes na diretoria do BC, Alkimar Moura, que deixou o órgão em 97. Moura avaliou que a política de juros altos pode estar perdendo o poder de atrair capital externo, o que torna mais urgente mudar o papel da política cambial.
Traduzindo: hoje, o real está sobrevalorizado em relação ao dólar para conter a inflação, o que gera um déficit nas transações com o exterior. Para cobrir esse déficit, os juros são mantidos altos com o objetivo de atrair capital externo.
Essa combinação de papéis, segundo Moura, corre o risco de perder eficácia. A política de juros, disse, "tem resultados decrescentes".
Na argumentação do ex-diretor do BC, os choques de juros conseguiram atrair capital externo ao país na crise do México, em 95, e na crise asiática do ano passado. Agora, os resultados são bem mais modestos.
Ele também citou estudos segundo os quais as decisões dos investidores de levar dinheiro aos países emergentes muitas vezes estão mais relacionadas à situação nas economias desenvolvidas do que às vantagens oferecidas pelas subdesenvolvidas.
O palestrante seguinte, outro ex-membro da equipe econômica, o ex-presidente do BC Gustavo Loyola, disse que Moura estava sugerindo a alternativa errada: "flexibilizar a política cambial", ou seja, deixar o real se desvalorizar mais fortemente.
Minibandas
Embora o tema em discussão fosse a política monetária, Lopes também acabou dedicando grande parte de sua exposição a argumentar contra a aceleração da desvalorização cambial.
A política do BC, disse, se pautará por mais um ano de desvalorização gradual da taxa de câmbio, enquanto, também gradualmente, será permitido maior grau de variação das cotações.
Hoje, o dólar só pode variar livremente dentro de um intervalo bastante estreito, a chamada minibanda, ontem fixada pelo BC em R$ 1,19 (piso) e R$ 1,203 (teto), uma faixa de 1,1%. Segundo Lopes, ao final de 99, esse intervalo estará próximo de 3%.
Permitir uma desvalorização maior do real acreditando que as contas externas se equilibrariam, permitindo a redução dos juros, segundo Lopes, seria buscar "um almoço grátis", disse Lopes.
A expressão, do jargão dos economistas, significa um benefício sem custos que, por definição, não existe.

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