São Paulo, sexta-feira, 4 de dezembro de 1998
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Europa reduz juros para estimular o crescimento

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os 11 países da Europa que vão adotar o euro, a moeda única, surpreenderam ontem o mercado internacional ao anunciar um corte conjunto de suas taxas de juros de curto prazo para 3% ao ano -com exceção da Itália, que reduziu de 4% para 3,5% ao ano.
A iniciativa partiu dos bancos centrais da Alemanha e da França, cujos juros servem de referência para os demais países da região. Ambos adotavam taxas de 3,3%.
Pouco minutos depois, Irlanda, Finlândia, Holanda, Bélgica, Áustria, Espanha, Luxemburgo e Portugal divulgaram também uma redução nos juros, que chegavam antes a até 3,75%. É a primeira vez que os dez países possuem uma taxa de juros comum.
O presidente do Banco Central da Alemanha, Hans Tietmeyer, afirmou que a decisão de ontem foi tomada com o objetivo de baratear os custos do crédito e, assim, combater uma perspectiva econômica "nublada" para a economia da região.
Na terça-feira, o presidente do Banco Central Europeu, Wim Duisenberg, afirmara que estava certo de que, em virtude da crise mundial, o crescimento da zona do euro se limitará a 2,5% em 99, contra a taxa de 3% prevista para este ano.
Em comunicado oficial, o Banco Central Europeu, que será responsável pelos juros nos países que vão adotar o euro, divulgou que a taxa de 3% será a inicial da zona do euro.
Após os três cortes de juros nos EUA desde o último dia 29 de setembro -que levaram as taxas norte-americanas a uma queda de 0,75 ponto percentual e chegar a 4,75% ao ano-, esperava-se que a Europa fizesse o mesmo.
O próprio diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus, havia advertido que os riscos de uma recessão "não estão totalmente dissipados" e afirmara que um corte nos juros europeus seria bem-vindo no atual cenário de crise econômica global.
Autoridades financeiras da Europa divergiam, no entanto, a respeito de um eventual corte nos juros. Um dos defensores da medida, o novo ministro das finanças da Alemanha, Oskar Lafontaine, afirma que uma redução nos juros deverá estimular a economia e ajudará a diminuir o desemprego, um dos maiores problemas enfrentados hoje pela região.
O Bundesbank, o banco central alemão, resistia à idéia por temer que a redução pudesse comprometer a estabilidade dos preços. "Essa decisão não está influenciada por pressões políticas", afirmou ontem Tietmeyer, dirigente do Bundesbank, que é independente.
Analistas não apostavam que a Europa cortasse seus juros em tão poucos tempo. Alguns previam uma redução no dia 22 deste mês ou somente no primeiro trimestre do próximo ano.
A decisão de reduzir os juros foi possível principalmente em virtude de os países da região estarem conseguindo manter o controle da inflação -em outubro, o aumento dos preços foi, na média, de 1%.
Tietmeyer afirmou que a decisão de ontem também contribui para eliminar a incerteza quanto à redução das taxas.
Analistas dizem que os países europeus que não adotarão o euro em 99 deverão cortar seus juros. No Reino Unido, por exemplo, uma nova redução pode ocorrer na próxima semana, afirmam alguns especialistas.
Tanto o dirigente do Bundesbank quanto o presidente do Banco da França, Jean-Claude Trichet, afirmaram que os governos não devem usar as taxas menores como desculpa para postergar reformas estruturais necessárias.
As Bolsas de Valores da região reagiram com otimismo e fecharam com ganhos de cerca de 2%.

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