São Paulo, sexta-feira, 4 de dezembro de 1998
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Racismo é só um dos erros de "Nova York Sitiada"

THALES DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

É lamentável que um filme com dois astros da pesada como Denzel Washington e Bruce Willis só vá ser lembrado pelo tom racista de seu enredo. "Nova York Sitiada" não passa de um grande equívoco na vida dos dois atores. E os espectadores sofrem junto.
Parece que Bruce Willis percebeu a enrascada. Seu personagem, o mais importante general do exército americano, braço direito do presidente, aparece pouco. São menos de uma dúzia de cenas, que o astro poderia ter gravado numa tarde, tamanho o desleixo interpretativo.
Com Willis restrito a uma "participação especial", sobra para o casal Washington e Annette Bening a tarefa de conduzir um filme sem ritmo e sem arquitetura narrativa.
Não há uma trama construída, apenas a repetição de um mesmo núcleo de ação: um atentado terrorista, um punhado de cadáveres, alguma investigação, muitas discussões e algum flerte entre o casal -ele é do FBI, ela, da CIA.
Os atentados são obra de um grupo árabe, e a notória paranóia dos norte-americanos trata de transformar rapidamente qualquer pessoa de origem árabe em potencial terrorista.
Com a ineficácia do FBI e da CIA, a pressão popular aumenta, e o presidente autoriza que o exército tome conta de Nova York. Aí entra o personagem de Willis, com jeitão alucinado de militar linha-dura.
O general estabelece toque de recolher na cidade, transforma estádios de beisebol em campos de concentração e tortura suspeitos até a morte. Tudo isso sem mexer um músculo do rosto.
Os personagens principais têm suas ligações com os árabes. O parceiro do agente do FBI é muçulmano e tem um filho adolescente detido num dos estádios. A garota da CIA está apaixonada por um árabe, agente duplo treinado por ela e suspeito de estar relacionado com os atentados.
Mas uma discussão mais profunda a respeito das motivações dos terroristas ou da paranóia da população não encontra espaço. O filme quer ser thriller de ação, dispensando qualquer sutileza na questão racista. Por ser tão simplório e direto, acaba assumindo o caráter do general.
Sem emoção, com um grupo de bons atores perdidos na histeria de uma megaprodução descontrolada, "Nova York Sitiada" não é apenas um filme racista. É cinematograficamente medíocre.

Filme: Nova York Sitiada
Produção: EUA, 1998
Direção: Edward Zwick
Com: Denzel Washington, Annette Bening e Bruce Willis
Quando: a partir de hoje nos cines Marabá, Ibirapuera 2, West Plaza 3, Gazeta, SP Market 3 e circuito

Texto Anterior: 'Monella' bateu 'Titanic' na Itália; e daí?
Próximo Texto: "Filme incita ódio aos árabes"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.