São Paulo, sexta-feira, 4 de dezembro de 1998
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Cubas ignora ordem de prender Oviedo

LUÍS EBLAK
DA REDAÇÃO

O presidente paraguaio, Raúl Cubas, não vai cumprir a determinação da Corte Suprema de Justiça, que anteontem anulou a libertação do general Lino Oviedo.
Condenado a dez anos de prisão por ter liderado a tentativa de um golpe de Estado em 1996, Oviedo ficou detido entre dezembro de 1997 e agosto passado, quando Cubas lhe concedeu indulto.
A Corte Suprema -a mais alta instância judicial do país- considerou inconstitucional o decreto presidencial e determinou que Oviedo retornasse à cadeia.
A decisão da Corte foi ao encontro da ação pedida há três meses pelo Congresso, que solicitou a anulação do indulto.
Mas, segundo a Justiça, quem deve reconduzir o general à prisão é o presidente, que garantiu ontem que não irá fazer isso.
"Não podemos tomar decisões precipitadas, mas mantenho minha promessa de deixá-lo (Oviedo) em liberdade", disse Cubas.
Justificativa
"A decisão da Corte não tem esse efeito (o de fazer Oviedo voltar à cadeia). Diz respeito apenas a uma disputa entre poderes, no caso, entre Legislativo e Executivo", disse à Folha José Francisco Appleyard, advogado do militar e senador governista pelo Partido Colorado.
Segundo ele, o Congresso alegou inconstitucionalidade do indulto e a Corte decidiu exclusivamente sobre isso. "Oviedo não será preso simplesmente porque já foi inocentado da tentativa de golpe."
Oviedo não deu declarações sobre o caso. Segundo seu advogado, o general manteve seu ritmo normal de vida. "Ele viajou ontem pelo país, pois o Partido Colorado terá eleições internas e ele está em campanha", afirmou Appleyard.
O fato é que a decisão gerou um impasse. A Corte ordenou que Oviedo fosse preso, mas o tribunal não fará nada caso Cubas se recuse a executar a ordem. Segundo a Justiça, será o Congresso que terá de tomar as decisões a respeito.
O próprio Tribunal Superior de Justiça Eleitoral não sabia dizer ontem à tarde se Oviedo ainda tem direitos políticos ou não.
Apesar disso, a oposição comemorou a decisão de anteontem. "A sentença fortalece a democracia e mostra o equilíbrio entre os poderes", afirmou à Folha Luis Gonzáles Macchi, presidente do Senado.
O parlamentar, da ala opositora dos colorados, disse estar otimista que Oviedo voltará à prisão.
Se Cubas não cumprir a sentença, Gonzáles diz que o presidente sofrerá um "julgamento político".
Histórico
O Paraguai ainda vive um período de consolidação democrática, após 35 anos de ditadura de Alfredo Stroessner (1954-89).
Por isso suas instituições ainda estão fragilizadas. A própria tentativa de golpe de 96 é um indício dessa transição. Oviedo (do Exército) tentou derrubar Juan Carlos Wasmosy (Executivo), membro de seu partido, o Colorado.

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