São Paulo, sexta-feira, 4 de dezembro de 1998
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Caso Pinochet divide governistas chilenos

OTÁVIO DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise política no Chile provocada pela detenção do general Augusto Pinochet se aprofundou nos últimos dias em consequência de uma carta enviada por dez deputados socialistas ao ministro do Interior britânico, Jack Straw.
No texto, os parlamentares pedem a extradição do ex-ditador para a Espanha, pois, segundo eles, não haveria condições de julgá-lo no Chile (leia texto nesta página).
No próximo dia 11, Straw anunciará se autoriza o início do processo de extradição de Pinochet para a Espanha, onde ele seria julgado por violações dos direitos humanos ocorridos quando ele governou o Chile (1973-90).
A atitude dos deputados, levada a cabo na semana passada sem autorização da direção do Partido Socialista, foi duramente criticada pelo governo chileno. Os socialistas fazem parte da coalizão que está no poder e, portanto, deveriam apoiar a posição oficial no caso.
Desde a detenção do general em Londres, em 16 de outubro, o governo tem lutado por seu retorno ao Chile, alegando que ele teria imunidade na condição de senador e ex-chefe de Estado, e que apenas o Chile teria competência para julgar delitos ocorridos no país.
Recém-chegado de uma visita ao Reino Unido e à Espanha, o ministro das Relações Exteriores, José Miguel Insulza, que é socialista, criticou seus colegas de partido.
Segundo Insulza, "é muito difícil fazer mais gestões no exterior, ir até a Espanha, ao Reino Unido e outras nações amigas se as mensagens que saem do Chile são tão contraditórias".
A missão tinha como objetivo tentar convencer o Reino Unido e a Espanha de que é possível julgar Pinochet, 83, no Chile.
Mas, de acordo com o jornal chileno "El Mercurio", os interlocutores de Insulza teriam apresentado ao ministro relatórios e documentos que defendem a tese de que o julgamento no Chile seria improvável devido à existência de um acordo político e de condições jurídicas que dariam a Pinochet uma imunidade absoluta.
O impacto da carta foi tão grande que, ontem, um de seus signatários, o deputado Juan Pablo Letelier, reconheceu que ela foi "um erro", embora insista que o Chile ainda não oferece garantias para a realização do julgamento.
"O que eu quero pessoalmente é que Pinochet seja colocado à disposição de um juiz chileno e não de um estrangeiro, mas, para isso, necessitamos que o mundo acredite que isso é possível", afirmou Juan Pablo Letelier.
Ao criticar seus correligionários, Insulza aproveitou para criticar o universo político chileno, cada vez mais dividido.
"É importante que se entenda no Chile que o problema não está, embora pareça estranho, enraizado em Londres ou em Madri, mas sim no Chile", disse o ministro.
Num aparente esforço para tentar mostrar que, diante de uma eventual libertação de Pinochet, seria possível avançar na questão dos direitos humanos, o presidente Eduardo Frei (democrata-cristão) estaria preparando um pacote de medidas para criar um ambiente favorável a um eventual julgamento do general.
Além disso, o governo poderia sugerir novamente à Suprema Corte (órgão máximo do Poder Judiciário) que designe um juiz, com status de ministro, para coordenar as investigações contra o general Pinochet.

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