São Paulo, sexta-feira, 4 de dezembro de 1998
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Nascituro, mas velho

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Dentro de 27 dias, nasce FHC-2, o segundo período Fernando Henrique Cardoso.
Pena que o nascituro emita todos os sinais de que já vai nascer envelhecido, enrugado até.
O primeiro sinal veio do ambiente externo ao bebê. Colhido pelo vendaval externo, seus pais abandonaram o saudável debate em torno das técnicas para o crescimento saudável da criança. Limitado pela impossibilidade de crescer sem que os pais se endividem demais no exterior, o jovem FHC-2 corre o risco de nanismo.
Mas a questão do crescimento acabou ficando em segundo plano. Pais e equipe médica passaram a dedicar-se exclusivamente à sobrevivência do feto, ameaçada pelo contagioso vírus de desvalorizações descontroladas.
Mais recentemente, às rugas do ambiente externo somaram-se as advindas da profunda discórdia em família. Pais, tios, amigos e padrinhos já não se entendem, de que dá prova -a mais contundente até agora- a rejeição, anteontem, de uma fatia do ajuste fiscal.
Antes mesmo que o bebê nasça, a família montou uma tremenda batalha para pôr a mão nos melhores nacos do rebento. O que cria uma situação insólita: em vez de parentes e amigos cuidarem do enxoval para o futuro recém-nascido, exigem deste que lhes dê casa, comida e roupa lavada, na forma de ministérios, de preferência superministérios, que assegurem o sustento (político-eleitoral) da numerosa família montada pelo pai desde antes do nascimento de FHC-1.
É natural, por tudo isso, que o pai diga estar vivendo seus "piores momentos". Natural, mas triste: pais às vésperas do nascimento de um filho, ainda mais de um filho tão desejado a ponto de a família ter mudado as regras do jogo, para permitir uma segunda gravidez, geralmente ficam eufóricos e babões.
Depois do que ocorreu anteontem, se o pai for visto babando, certamente será de raiva.

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