São Paulo, sexta-feira, 4 de dezembro de 1998
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Governo de ressaca

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - O governo vinha aprovando todas do pacote fiscal. Agora, abriu a temporada de derrotas. Ou, no mínimo, a temporada da incerteza.
Falta votar o fim de isenções para entidades filantrópicas, provavelmente na próxima semana, e a prorrogação da CPMF, entre março e abril. São votações difíceis.
Perder em votação de emenda constitucional, com quórum de três quintos da Câmara e do Senado, vá lá. Mas governo que é governo não perde em votação de maioria simples, que é apenas metade mais um dos presentes.
Fernando Henrique Cardoso ficou desolado, os líderes estavam encabulados. As ameaças começaram: quem votou contra vai ficar sem sua emendinha paroquial no Orçamento.
O Banco Central registrava um efeito ainda pior no front econômico: as Bolsas caíram, o índice Dow Jones tremeu, os "treasures" (papéis do governo norte-americano) subiram. Insegurança aqui, busca de segurança lá.
Houve vários erros dos líderes. O primeiro, e definitivo, foi misturar aumento de contribuição de ativos com criação de contribuição para inativos. Potencializaram o risco.
Outro, muito importante, foi introduzir a discussão do fim das isenções, atraindo a ira de PUCs, entidades filantrópicas e produtores rurais. São setores que têm bancadas. E essas bancadas juntaram forças contra.
Um terceiro erro: votaram na hora errada, no pressuposto de que seria mole ter maioria simples. Não foi. O que aumenta o peso da derrota.
Há também o caldo de cultura. O governo dá sinais de fragilidade, os aliados não se entendem, os derrotados pressionam por cargos e há sempre os que despejam mágoas em votações.
Exemplo: comenta-se que o deputado Elias Murad (PSDB-MG) votou contra porque não foi nomeado para a secretaria antidrogas.
Nenhuma avaliação política ou econômica, porém, supera a mais singela constatação: garfar o rico dinheirinho de aposentados e mastigar a renda de assalariados dá indigestão.
A medida era danadinha de azeda. Especialmente para estômagos sensíveis que vivem de voto.

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