São Paulo, segunda-feira, 28 de dezembro de 1998
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Indústria do cigarro ganha direito de lutar pela F-1

DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria do cigarro, que investe cerca de US$ 400 milhões por ano na F-1, obteve vitória expressiva, na última semana, em sua luta para se manter como patrocinadora de eventos esportivos.
Quatro gigantes do setor tabagista ganharam na Justiça o direito de contestar a legalidade dos vetos estabelecidos pela União Européia.
No início deste ano, a entidade que coordena a unificação do continente estabeleceu prazos para abolir todas as formas de publicidade de cigarro nos países membros. A F-1, após forte lobby, conseguiu um dos maiores prazos de adaptação, negociando um veto parcial a partir de 2002, e a abolição total do patrocínio de cigarros na categoria a partir de 2006.
Esse cenário, agora, pode sofrer alterações. Com o direito de contestação adquirido, British American Tobacco, Gallaher, Imperial Tobacco e Rothmans levarão o caso à Corte de Justiça Européia instalada na Suprema Corte Britânica.
Segundo David Swan, chefe do lobby tabagista na Europa, "os vetos da União Européia não se sustentam, não têm base legal".
Além das empresas e da FIA, lutam pela propaganda de cigarros na Europa associações que congregam agências de publicidade e sindicatos de revistas -cujos orçamentos dependem muito do setor.
A F-1, para a indústria tabagista, é um setor vital na disputa. A categoria, com ampla exposição na mídia européia, é praticamente o único meio de as marcas de cigarros serem expostas na TV. Ao contrário do que ocorre no Brasil, a publicidade de cigarros é proibida nas TVs do continente, sendo que, em alguns países, como França e Holanda, é totalmente proibida.
O patrocínio às equipes, dessa forma, transformou-se em uma espécie de horário nobre para o setor, inflacionando a categoria. As principais estrelas do Mundial, neste momento, são Mika Hakkinen, da McLaren, bancado pela marca alemã West (Reemstma), e Michael Schumacher, da Ferrari, bancado pela norte-americana Marlboro (Philip Morris).
Ciente do posicionamento politicamente incorreto adotado pela entidade que chefia, o inglês Max Mosley, presidente da FIA, cumpriu nas últimas semanas a promessa que havia feito quando da decisão pelo veto ao patrocínio tomada pela União Européia.
Mosley reafirmou sua intenção de abolir por decisão própria o patrocínio tabagista caso alguém ou alguma entidade consiga provar cientificamente que a publicidade de cigarros na F-1 influa na decisão dos jovens de começar a fumar.
"Não podemos esquecer que há muita hipocrisia em toda essa discussão. Assim que alguém comprovar, de forma séria e abalizada, que os jovens estão começando a fumar por causa da F-1, serei o primeiro a lutar contra o problema", declarou o dirigente.
Mosley deu prazo até meados de 1999 para receber algum estudo sobre o assunto. Na verdade, já havia feito tal oferta no início deste ano.
Mas, como disse não ter recebido resposta, estendeu o prazo.
O envolvimento da F-1 com o cigarro data da década de 1960, quando a TV britânica resolveu banir a publicidade tabagista. A partir de então, a indústria tornou-se um dos principais financiadores da categoria.
Estima-se que os grandes times, como Ferrari, McLaren, Williams e Jordan, obtenham de US$ 30 milhões a US$ 40 milhões por ano das empresas que os patrocinam.

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