São Paulo, segunda-feira, 28 de dezembro de 1998 |
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NY passa réveillon com arte
CELSO FIORAVANTE
Um dos destaques é a retrospectiva de Ben Shahn, um lituano que nadou contra as tendências abstratas que vigoravam nos EUA na metade do século e produziu uma obra estética, ética e moral. Ben Shahn (1898-1969) era um artista judeu, pintava telas com motivos da tradição judaica e agora ganha importante retrospectiva no The Jewish Museum. Tanta especificidade, porém, não reduz o interesse por sua obra, que, vez ou outra, reaparece, como agora na comemoração de seu centenário de nascimento. Ben Shahn utilizou uma experiência pessoal e circunscrita -a sua herança cultural judaica- para discutir questões universais, como violência, injustiça e desigualdades sociais. Também não se ateve apenas a questões de ordem ética, e produziu, em quatro décadas (a partir dos anos 30), uma obra com características estéticas particulares, com um peculiar interesse pelos campos cromáticos e por paisagens e formas insólitas. Ben Shahn viveu um constante dilema entre a fé em Deus e a razão dos homens. Isso se evidencia em trabalhos como "Helix e Crystal" (foto nesta página), que apresenta um homem em posição de oração e debruçado sobre uma pilha de cristais (uma representação para a ciência). De seus olhos cerrados, sai ainda uma constelação de átomos (apesar de amante da física e de físicos, como Einstein, Shahn se preocupava muito com os efeitos de uma guerra nuclear). Absolutamente figurativo, o artista foi na contracorrente daquilo que predominava na época, o expressionismo abstrato (movimento capitaneado Jackson Pollock, Mark Rothko e Willem de Kooning). Judeu lituano radicado nos EUA a partir de 1906, Shahn manifestou-se contra injustiças políticas, como o julgamento e condenação à morte dos anarquistas italianos Sacco e Vanzetti ("A Paixão de Sacco e Vanzetti", série de trabalhos de 1931 e 1932), e sociais da época, como as condições miseráveis em que os trabalhadores viviam durante a Depressão norte-americana (crise econômica posterior ao crash da bolsa de Nova York em 1929). A influência exercida pelos movimentos trabalhistas e lutas por reformas sociais nos anos 20 e 30 originou um movimento pictórico conhecido como realismo social, do qual Shahn foi adepto. Também indignou-se com os horrores do Holocausto e da Segunda Guerra e retratou a destruição em telas metafísicas, como "Paisagem Italiana" (1943/1944) e "Liberação" (1945). Mas não foram apenas os movimentos sociais que o influenciaram. Nos anos 20, viajou com a mulher para a Europa, onde entrou em contato com algumas de suas maiores influências, como o impressionismo francês, o figurativismo de Balthus (em que várias cenas se desenvolvem no mesmo espaço, mas sem relação entre elas), os flertes surrealistas de Paul Klee (como na obra "Composição com Clarinetes e Corneta", foto nesta página) e a pintura metafísica de De Chirico e Magritte. Mostra: Common Man Mythic Vision - The Paintings of Ben Shahn Onde: The Jewish Museum (1.109, 5ª avenida, tel. 00 1 212 423-3200, Nova York) Quando: até 7 de março Próximo Texto: MoMA viu obras antes Índice |
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