Crítica / Disco

"Smoke Ring for My Halo" mostra pop fantasmagórico

Em 2008, Kurt Vile lançou um disco com a banda The War on Drugs. Logo depois partiu em carreira solo e gravou três discos solo. "Smoke Ring for My Halo" é seu quarto -e melhor- trabalho.

O CD ficou em várias listas de melhores de 2011, e não sem razão: nele, Vile dá a sua versão para o rock clássico norte-americano de Dylan e Tom Petty, mas com um viés mais psicodélico e viajandão.

Com vocais praticamente soterrados em ecos e reverberações, Vile criou um tipo de pop fantasmagórico, sua visão do lo-fi, um movimento que, desde os anos 80, busca gravações sem o "brilho" da música pop moderna.

Pode-se ver o lo-fi como uma reação à assepsia da música comercial ou simplesmente como uma forma mais relaxada e instintiva de gravar. Não é à toa que, na capa do disco, Vile apareça sentado num sofá, sozinho, tocando um violão. O clima é esse.

Kurt Vile consegue soar revisionista sem ser datado. O disco tem um tom intimista de "gravado na garagem de casa" e, ao mesmo tempo, é ambicioso, com arranjos elaborados e um elevado nível de musicalidade. Um feito.

As músicas de Vile são preguiçosas, relaxadas, ideais para ouvir num domingo de manhã. A faixa de abertura, "Baby's Arms", é uma balada solar com um climão etéreo, que lembra o rock psicodélico dos anos 60.

"Jesus Fever" remete aos momentos mais introspectivos do Sonic Youth. Também não é coincidência que Vile esteja excursionando com Thurston Moore, artista com quem certamente divide um gosto pela estética lo-fi.

Aqui e ali, surgem no disco de Kurt Vile ecos das guitarras de Neil Young e do country-rock de Gram Parsons, mas sempre com a forte marca do artista.

Vile não é um simples imitador, mas um artista singular e talentoso, que usa suas influências para criar uma música pessoal.