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CRÍTICA TEATRO

Forte, "Flutuações" é encenado com mínimo de recursos e máximo de eficácia poética

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

O teatro como grande arte. "Flutuações", novo espetáculo do Contadores de Estórias, reafirma o lugar único que o grupo ocupa no teatro brasileiro contemporâneo.

Comemorando 40 anos de trabalho, sendo 30 sediados no teatro Espaço, em Paraty (RJ), Marcos e Raquel Ribas apresentam em São Paulo a última joia de seu baú de preciosidades.

Desta vez o ponto de partida foi uma famosa coleção de xilogravuras japonesas dos séculos 18 e 19, chamada Ukiyo-e, que apresenta cenas cotidianas.

Somadas a situações corriqueiras extraídas do dia a dia de Paraty, elas reaparecem encenadas com um mínimo de recursos e um máximo de eficácia poética.

A linguagem desenvolvida por Marcos e Rachel ao longo de 24 espetáculos tem como característica mais saliente o uso de pequenos bonecos, cuja simplicidade construtiva contrasta com o efeito sobrenatural de se revelarem tão humanos como seus discretos manipuladores.

Eles inventaram esse procedimento e vêm operando a partir dele há muitos anos.

O desafio mais recente foi ampliar, e muito, a participação dos intérpretes para além da função de animar os pequenos seres de pano criados por Raquel.

Nas 13 cenas que se sucedem, sempre demarcadas pela trilha sonora musical e nunca carecendo de palavras, a atuação de quatro atrizes e de um único ator é variada, porém se destaca como reverberação dos gestos que os bonecos realizam.

calmo e intenso

Desde a montagem e desmontagem de cada uma das cenas, que fazem precisa e delicadamente aos olhos do público, até aquelas em que, em escalas distintas, seus corpos e os bonecos, contrastados, atuam em uníssono para transformar ações banais em pinturas vibrantes, tudo nessa narrativa visual é calmo e intenso.

O título "Flutuações", tanto remete ao sentido explícito de alguns quadros, como quando o canoeiro que navega em um mar de guarda-chuvas ondula ao ser tocado pela companheira, quanto alude às próprias variações cênicas, como se o tecido espetacular, bafejado pela imaginação de Marcos, o encenador, flutuasse mansamente.

Os contadores de história recriam a humanidade em seus espetáculos sem, exatamente, imitarem a natureza.

A força extraordinária de suas marionetes não advém de sua extrema parecença conosco, mas de elas captarem o sopro de vida que nos anima e que reaparece materializado no espaço cênico.

Não é pouca coisa. É raro e está à altura das obras de arte mais expressivas.

FLUTUAÇÕES

QUANDO hoje, às 19h30 e às 21h; amanhã, às 19h

ONDE Espaço Sobrevento (r. Coronel Albino Bairão, 42, Brás; tel. 3399-3589)

QUANTO grátis

CLASSIFICAÇÃO 14 anos

AVALIAÇÃO ótimo

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