São Paulo, sábado, 1 de março de 1997.

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PATRIMÔNIO
Jovens arquitetos vencem concurso; agência do Anhangabaú terá teatro, cinemas, exposições e biblioteca
Correio vai abrigar centro cultural

NAIEF HADDAD
da Revista da Folha

De uma revista de nome mais que inusitado -``Caramelo''- nasceu a Una Arquitetos, formada por um grupo de jovens. O projeto da turma dará origem a um grande centro cultural na região central de São Paulo.
Eles venceram o concurso promovido pela Empresa de Correios e Telégrafos, que, em seis meses, iniciará a reforma de sua agência central, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo.
O projeto prevê a criação de três salas de exposição, dois cinemas, um teatro, uma biblioteca e um centro de convenções no prédio, além da manutenção da agência no primeiro piso.
A ``Caramelo'', que também é o apelido do vão central da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da FAU, surgiu em 1990.
Sua equipe, formada por Ana Paula Pontes, 25, Catherine Otondo, 28, Cristiane Muniz, 26, Fábio Valentim, 26, Fernanda Barbara, 29, e Fernando Viégas, 26, estava no segundo ano do curso. Hoje eles compõem a Una.
Prêmios
Eles se formaram em 1993 e, no ano seguinte, espalharam-se pelos escritórios de Paulo Mendes da Rocha, Marcos Acayaba, André Vainer, entre outros.
Os amigos se uniram novamente no final de 1994 para criar seu próprio escritório, que não demorou para iniciar sua coleção de prêmios.
Em novembro de 1995, receberam pelo projeto de duas casas no Morumbi menção honrosa no Prêmio Jovens Arquitetos, promovido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).
Em agosto de 1996, ficaram em segundo em outro concurso organizado pelo IAB para uma escola-modelo em Ribeirão Preto, interior do Estado de São Paulo.
Na última segunda-feira, levaram o primeiro lugar com o projeto para a agência dos Correios, construída em 1922.
``Desde o tempo em que estudávamos na FAU, tínhamos em comum o desejo de renovação e adensamento da área central de São Paulo'', afirmou Fábio Valentim.
Fim do curso
No último ano de faculdade, a turma da ``Caramelo'' se dividiu para realizar o projeto de conclusão de curso.
Já se dedicavam a mudar, em tese, a cara do centro da cidade. Um grupo sugeria a desmontagem do elevado Costa e Silva (Minhocão) e outro a construção de uma linha de trem subterrânea na ligação centro-zona leste, em substituição à atual na superfície.
Além disso, Ana Paula Pontes, uma das arquitetas da Una, coordena as obras da Pinacoteca do Estado, na região central. Como o edifício dos Correios, o museu também foi idealizado por Ramos de Azevedo.
Para a elaboração do projeto vencedor, o grupo contou com a consultoria dos historiadores Pedro Puntoni e Rodrigo Naves, que também é crítico de arte. Colaboraram também os arquitetos Antônio Carlos Barossi, Regina Meyer e Renato Viégas, o engenheiro Hani Ricardo Barbara e o estagiário Gustavo Moura.
Democracia cultural
Embora admita que pareça utópico, o coordenador do projeto de remodelação da agência dos Correios, Cézar Bergstrom, planeja um espaço voltado à diversidade.
``Para que um centro cultural seja fecundo, tem que contemplar todos os tipos de público'', disse.``Se você faz algo voltado para determinada classe, acaba criando um gueto.''
Para ele, esse perfil pode ser atingido devido às características do próprio centro, ``talvez a única área na cidade que mantém essa diversidade de público''.
O projeto prevê a construção de um teatro com três possibilidades de estrutura, com avanço do palco.
Assim, sua capacidade varia de 430 a 500 lugares (médio porte). Os dois cinemas poderão reunir até 280 pessoas cada um.
Climatizada, a principal das três salas para exposições terá 400 m2. Por fim, o edifício será dotado de uma biblioteca informatizada, incluindo coleção de CD-ROM, e de um centro de convenções.

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