|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Andaime" equilibra humor e crítica social na visão de operários "filósofos"
Peça de Sérgio Roveri estréia no Vivo, mostrando dois limpadores de janelas
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
E se um limpador de janela
estivesse trabalhando no instante do ataque às Torres Gêmeas? "Ia morrer antes do piloto, dos passageiros, de todo
mundo", diz um dos personagens de "Andaime", peça que se
passa nas alturas mas diz muito
sobre a vida ao rés-do-chão de
seus dois protagonistas, também eles a limpar os janelões de
um arranha-céu paulistano.
É a nona peça de Sérgio Roveri a ser montada desde que
deu mais espaço à dramaturgia
que ao jornalismo, ofício de formação, há apenas quatro anos.
Depois de ver quatro de seus
textos em cartaz no Espaço dos
Satyros, na pça. Roosevelt, região central da cidade, Roveri
vai parar no teatro Vivo, no Morumbi, onde "Andaime", patrocinada, estréia amanhã sob direção de Elias Andreato.
"Fiquei um pouco surpreso
em saber que aqueles dois trabalhadores vão ocupar um teatro como o Vivo. É uma ironia
do destino", diz Roveri, 46, sobre o espaço freqüentado por
público diferente daquele do
circuito alternativo.
Foi Gabriel Villela, aqui responsável por cenografia e figurinos, quem se deu conta do
contraste entre ficção e realidade: os ensaios aconteceram no
teatro Renaissance -e o luxuoso hotel chegou a oferecer bufê
para os artistas.
"Andaime" é uma comédia,
por vezes politicamente incorreta, que dá o que pensar por
meio do diálogo de dois operários sem instrução, mas "filósofos" na observação do cotidiano. José Mário (Claudio Fontana, também co-produtor do espetáculo) e Claudionor (Cássio
Scapin) passam boa parte do
tempo num estrado sustentado
por cabos de aço. Em cena, surgem a 1,80 metro do palco.
Enquanto conversam, não
perdem a concentração na limpeza, em meio a baldes, panos,
rodinhos, sons de sirenes e
aviões. Fumam escondidos do
chefe. E até repetem os exercícios da aula de academia que
espiam num dos andares.
As ações ocorrem em paralelo a reflexões inusitadas. Como
a do robôs que poderão tirar
seus empregos num futuro próximo. Ou sobre a chance de
olhar os bacanas "por cima",
aqueles que têm grana, carro
importado e mulher bonita, para depois capitular diante da invisibilidade.
"Às vezes, a gente fica uma
hora inteirinha limpando um
andar e ninguém dá uma olhada pra gente", diz Claudionor.
"Eles acreditam naquilo que
falam. Há verdades no absurdo
aparente", afirma Roveri, paulista cuja tônica da dramaturgia
é se esquivar de heróis ou vilões
para chegar ao cidadão comum.
ANDAIME
Onde: teatro Vivo (av. Dr. Chucri Zaidan, 860, tel. 3188-4141)
Quando: estréia amanhã, às 21h30;
sex., às 21h30; sáb., às 21h; e dom., às
18h. Até 29/4
Quanto: R$ 50
Texto Anterior: Trecho Próximo Texto: Rumos mostra novas formas de pensar a dança Índice
|