São Paulo, terça-feira, 01 de março de 2011 |
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CRÍTICA DANÇA "Beije Minha Alma" peca por falta de contexto brasileiro FLÁVIA COUTO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Tracey Emin é uma artista plástica britânica que no final dos anos 90 causou polêmica devido as suas obras, vistas pelos ingleses como ousadas. A obra "My Bed" (1998), por exemplo, causou furor por mostrar a própria cama da artista desarrumada e suja, com resquícios de um momento de total desalento da artista. Foi principalmente nessa obra de Tracey que a Cia. Fragmento de Dança baseou a criação do espetáculo "Beije Minha Alma". A coreografia de Vanessa Macedo, diretora do grupo, se compromete a expor o universo íntimo do ser humano, cavando sentimentos advindos de experiências nada felizes, como fracassos, conflitos sexuais, depressão e solidão. A exposição de imagens, que traduzem emoções humanas e que ao mesmo tempo são referências à autobiografia dos artistas envolvidos, é característica recorrente nas produções contemporâneas. Característica em muito herdada do existencialismo literário e filosófico desenvolvido nos séculos 19 e 20 na Europa, com filósofos como o francês Jean-Paul Sartre. A forte veia existencialista somada ao repertório conflituoso de Tracey conduz "Beije Minha Alma" para um ambiente cênico de introspecção dos bailarinos. Seus rostos pouco deixam escapar alguma emoção e se mantêm um tanto apáticos durante a apresentação. Os movimentos também não apresentam grandes quebras de ritmo. O tom melancólico parece ser resultado da leitura feita sobre a obra de Tracey, porém não cria estreita ligação com as experiências de conflito mais comuns ao contexto brasileiro. O que no começo é uma proposta de captação das emoções oriundas da sensibilidade humana acaba por se revelar pouco sensível às questões que mobilizam a contemporaneidade. Talvez o caminho mais instigante para dialogar com Tracey Emin, seria reconhecer o modo como a artista se relacionava criticamente com o meio em que vivia. E, assim, propor não apenas um deslocamento estético do existencialismo coerente com a cena artística europeia dos anos 90, que por si só já é bem diversificada. Mas sim, propor uma obra que confesse os sentimentos singulares que rondam as experiências por aqui vividas. BEIJE MINHA ALMA QUANDO de ter. a qui., às 21h; até 24/3 ONDE Sesc Pompeia (r. Clélia, 93; tel. 3871-7700) QUANTO de R$ 3 a R$ 12 CLASSIFICAÇÃO 16 anos AVALIAÇÃO regular Texto Anterior: Crítica/Comédia: Espetáculo atravessa abismo da crise da representação teatral Índice | Comunicar Erros |
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