São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2004

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TEATRO

Segunda criação de Maurício Paroni de Castro com a companhia Atelier de Manufactura Suspeita ocupa bar da rua Augusta

"Pornografia Barata" testa representação

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
A companhia Atelier de Manufactura Suspeita durante ensaio de "Pornografia Barata", com direção de Maurício Paroni de Castro


PEDRO IVO DUBRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um ponto limítrofe da rua Augusta, "terra de ninguém" entre os cinemas comportados das cercanias da avenida Paulista e os inferninhos próximos do centro, serve para abrigar uma peça que, segundo o seu diretor, Maurício Paroni de Castro, 42, se fixa nos limites entre a representação e a não-representação teatrais.
"Pornografia Barata", texto do espanhol Andrés Lima montado em Madri em 2002 e que ocupa a partir de hoje o bar Sarajevo Internet Point, é o segundo trabalho do encenador com a companhia Atelier de Manufactura Suspeita, grupo de jovens atores que debutou com a montagem de "A Parca Norueguesa", em 2002.
Composta por cenas curtas e seriadas, a peça, coalhada de palavrões e de imagens fortes e sensuais, percorre o itinerário de busca afetiva implicada nas conjunções carnais. Há encontros entre clientes e prostitutas e instantâneos de casais pouco ortodoxos, por exemplo.
"Gosto desse tipo de ação, ações que são absolutamente íntimas e feitas em público. Procurei encontrar beleza dentro disso. A beleza das pessoas não é bem a beleza que se procura na arte. Isso é tratado pelo texto de uma maneira hiper-realista. Lembra muito o [o inglês Harold] Pinter", afirma Paroni de Castro.
Para ele, o espetáculo se tece nas fronteiras da representação. "Estamos trabalhando no limite, no "grau 0,01". E isso é tão difícil quanto trabalhar num grau de teatralidade exacerbada." Não se confunda, porém, esse exercício "real" com a exibição pura e simples de sexo explícito que o título pode evocar. "Existe uma sensualidade "não-ginecológica'", diz.
A utilização do espaço não-convencional, ocorrida em "A Parca Norueguesa" (apresentada no parque da Água Branca e na Casa das Caldeiras), caracteriza a concepção. "Não vejo a peça encenada em palco italiano. Eu a vejo em lugares não-preparados."
Maurício Paroni de Castro armou um ambiente com lâmpadas comuns e ocupado por uma cortina, um veludo, banquinhos e apetrechos sexuais. Num filó, são projetados filmes pornôs, que remetem ao "peep show".
O diretor, entretanto, apesar de as duas criações recentes escaparem do edifício de teatro convencional, não vê um esgotamento específico do tablado de conformação italiana. "Tudo depende da dramaturgia, do que solicita a dramaturgia", considera.
Encenador que transita com constância entre o Brasil e a Europa, onde leciona, Paroni de Castro é associado à companhia escocesa The Suspect Culture, na qual conheceu Andrés Lima. Em maio, o diretor paulistano parte para a Noruega para montar "O Pequeno Eyolf", de Henrik Ibsen (1828-1906). Tem planos ainda de realizar uma encenação em Portugal. Uma nova temporada de "A Parca Norueguesa" pode ocorrer no próximo semestre deste ano.

PORNOGRAFIA BARATA. Texto: Andrés Lima. Direção e dramaturgia: Maurício Paroni de Castro. Assistente de direção: Mateus Parizi. Com: Atelier de Manufactura Suspeita (Diego Ruiz, Fernanda Moura, Paulo Moreno e Roberta Youssef; participações de Ziza Brisola, Cássio Santiago e Elisa Band). Onde: Sarajevo Internet Point (r. Augusta, 1.385, tel. 9411-3062). Quando: estréia hoje, às 21h; de dom. a ter., às 21h. 60 min. 18 anos. Quanto: R$ 10.


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